Tribuna da Bahia: A complexa relação juros X preço
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07/02/2012A perspectiva de juros mais baixos ao consumidor, na esteira da queda da taxa básica — a Selic, hoje em 10,5% —, pode tornar os consórcios menos vantajosos na comparação com financiamentos. Ainda assim, seus custos continuam mais baixos, segundo especialistas. Por isso, o mercado prevê crescimento para este ano, mesmo após 2011 encerrar com vendas recordes de cotas de consórcios. A comparação entre consórcios e financiamentos vai além da matemática. Como o consórcio não permite a aquisição imediata do bem, é preciso analisar caso a caso.
Na frieza dos cálculos financeiros, o consórcio é mais barato. Um carro de R$ 40 mil sai por R$ 52,5 mil num consórcio de 60 meses, mas pode chegar a custar R$ 72,1 mil num financiamento de mesmo prazo, de acordo com cálculos do professor de finanças Marcos Heringer, do Ibmec/RJ.
A diferença deve continuar a curto prazo, pois, mesmo com a tendência de queda na Selic, os juros ao consumidor ainda seguem elevados. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média ao consumidor para o financiamento de veículos ficou em 2,18% ao mês em dezembro.
O custo é alto na comparação com as taxas dos consórcios — em média, de 0,25% ao mês para o caso de automóveis, segundo a Associação Brasileira de Administradores de Consórcios (Abac).
Queda da Selic para 9,5% é insuficiente
A queda da Selic para 9,5%, como prevê o mercado, não altera tanto o quadro. Segundo Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac, a taxa básica nesse nível poderia levar a média dos juros para financiamento de automóveis a 2,06% ao mês.
Apesar de mais barato, o consórcio não garante acesso imediato ao bem. Para tanto, é preciso ser sorteado ou ter um lance vencedor. Mas é difícil calcular o custo disso.
— O custo de espera depende de cada caso. Para quem precisa de um automóvel, pode incluir gastos com aluguel de carro ou táxi — diz o professor Heringer.
Dessa forma, o consórcio só é adequado para compras planejadas, como para quem troca de carro periodicamente.
Foi o caso do analista de sistemas Flávio Andrade. Ele comprou o carro que usa hoje, um Corolla, em 2007, num consórcio iniciado em 2006. O prazo total era de 60 meses, mas Andrade deu um lance.
-— O consórcio é vantajoso para quem não tem pressa de adquirir o bem — diz Andrade.
Os consórcios de veículos são os mais comuns, respondendo por cerca de 85% do total de 4,6 milhões de consorciados, segundo dados de outubro da Abac. Nos consórcios de imóveis, são cerca de 612 mil participantes.
Segundo a Abac, 2,1 milhões de cotas foram vendidas de janeiro a outubro de 2011, crescimento de 20,7% frente a igual período de 2010 — os números completos do ano passado ainda não foram divulgados. O setor movimentou R$ 62,1 bilhões nos dez primeiros meses de 2011. Para este ano, o presidente da Abac, Paulo Rossi, projeta alta de 7% a 9% nas vendas.
Para Rossi e outros executivos do setor, o crescimento dos consórcios não depende só das taxas de juros. A escolha se dá em função do perfil: quem precisa logo do bem, recorre ao financiamento; quem pode esperar, sai ganhando no consórcio.
— É uma alternativa para o consumidor — diz Alexandre Luís dos Santos, gerente executivo da BB Consórcios.
Por isso, o consórcio costuma ser classificado como “poupança planejada”. Por outro lado, para quem é planejado e pode esperar, juntar dinheiro para comprar o bem é ainda melhor, como mostram os cálculos do professor Heringer. Para essa opção dar certo, porém, disciplina é a palavra de ordem.
-— Se a pessoa não consegue comprar nada sem pagar prestação, pelo menos o consórcio permite pagar menos no total — resume o educador financeiro Mauro Calil, da consultoria Calil & Calil.
Entenda os principais termos usados no mercado
COTA: Parte de cada consorciado no grupo. É possível comprar mais de uma cota.
TAXA DE ADMINISTRAÇÃO: Remuneração da administradora do grupo. A taxa é fixa, sobre o valor do crédito para adquirir o bem, e é paga mensalmente (dividido pelo número de parcelas).
CORREÇÃO: O consórcio não tem cobrança de juros. Os valores das prestações e o do crédito que contemplará o consorciado são corrigidos pela inflação.
FUNDO DE RESERVA: Além da taxa de administração, os consórcios geralmente têm cobrança de fundo de reserva e seguro. As taxas também são únicas sobre o valor do bem e pagas mensalmente. O objetivo do fundo é cobrir eventual inadimplência. O valor pode ser devolvido se houver sobras.
ASSEMBLEIA: Encontro mensal organizado pela administradora, quando são feitos os sorteios e os lances. Os sorteados são contemplados com o crédito antes do fim do consórcio.
LANCE: Valor oferecido pelos cotistas para antecipar o recebimento do crédito. Como num leilão, ganham as maiores ofertas. À medida que o prazo vai avançando, os valores tendem a diminuir.
http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20120206072320&assunto=25&onde=Economia