Folha.com: Fundo DI se torna menos atrativo com juro de um dígito
12/03/2012PESQUISA DE JUROS ANEFAC
13/03/2012De que modo os cortes na Selic influenciaram e ainda irão repercutir para o bolso da maioria dos consumidores?
Desde julho do ano passado, o Banco Central, diante de um cenário de desaquecimento da economia, iniciou uma estratégia de redução dos juros básicos para impedir um possível esfriamento mais intenso do ritmo da atividade nacional. De lá para cá, a taxa caiu de 12,5% para os atuais 9,75%, menor valor desde 2009. Mas de que modo os cortes na Selic influenciaram e ainda irão repercutir para o grande consumidor?
Para analistas, os efeitos, até agora, foram muito discretos e ainda não modificaram a sistemática de compras a prazo, financiamentos e empréstimos. O economista Francisco Assunção acredita que os juros declinantes ainda não exerceram impacto no consumo. Ele acredita, no entanto, que isso ocorrerá no médio ou longo prazo, caso o governo federal mantenha, de modo sustentável, a política monetária que vem utilizando. “Na ponta do consumo, ainda não há sinal, mas mais para frente, isso tende a ocorrer”, comenta.
Financiamento produtivo
Se a Selic prosseguir em queda, frisa Assunção, o financiamento produtivo também será afetado positivamente, o que permitiria que empresas contraíssem crédito de bancos pagando um juro menos elevado.
“Ainda há muito o que cair. Não há como manter o Brasil com spreads tão elevados em comparação com outros países”.
Consumir x poupar
Em um momento de crédito fácil e ainda com tendência de juros reduzidos, o consumidor, naturalmente, pode optar pelo consumo: comprar um carro, reformar a casa, viajar para o exterior. Contudo, a alternativa mais interessante pode ser preservar esse dinheiro e aplicar na poupança. Isso porque com a Selic menor, essa modalidade ganha atratividade em relação a outras formas de renda fixa. Como a caderneta de poupança tem seu ganho garantido por lei (Taxa Referencial + 6% ao ano) e não sofre qualquer tributação, ela passa a se destacar em épocas de juros recuados, uma vez que fundos de renda fixa, além se serem tributados pelo imposto de renda, ainda têm a cobrança da taxa de administração, que interfere diretamente na rentabilidade.
“Nesse cenário que vem se desenhando, olhando os produtos financeiros de aplicação, há uma ´dança´ entre as opções. Essa inflexão já transforma a caderneta num produto com alguma competitividade”, analisa Francisco Assunção.
Pequena redução
De acordo com a Anefac, a taxa média para a pessoa física, caiu 6,58% para 6,4% de dezembro para janeiro, valor avaliado como insuficiente para causar impacto expressivo no consumo. O cartão de crédito, por exemplo, manteve estável, mesmo com as já constantes reduções na Selic. Essa modalidade conta com juros médios anuais de 238,3%. De resultados imediatistas para da estratégia de corte de juro para o País, o economista cita, essencialmente, a abertura de espaço para o crescimento econômico e a criação de uma perspectiva de maior economia de encargos de dívida pública, o que acelera investimentos e possibilita mais emprego e renda.
FIQUE POR DENTRO
Juro básico é sinalização para os bancos
A Selic é uma média das transações diárias realizadas entre bancos ou entre essas instituições bancárias e o governo. As operações são fechadas nos fins de cada tarde e a média é anunciada por volta das 20 horas. Trata-se de um valor passado que serve de orientação para o futuro; uma base para determinação das taxas de cartão de crédito, cheque especial, crediário e outras formas de empréstimo e financiamento.
É o custo do dinheiro. Portanto, reduzir a Selic visa disponibilização de crédito e, consequentemente, aquecimento da economia, de compras a investimentos.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Falta arrojo para corte maior da taxa
Com os juros do mercado internacional em queda livre, o Brasil confirma-se como um dos países que têm as taxas mais altas do mundo, refletindo significativamente em nossa produção e consumo. Portanto, foi tímida a decisão anunciada pelo Copom na quarta-feira da semana passada. O reflexo será o aumento do endividamento interno.
Para que haja um equilíbrio, há necessidade de se buscar um crescimento do superávit primário, para tornar possível, assim, o pagamento dos juros e, automaticamente, amortizar o endividamento interno.
Faltou coragem em algumas manobras, tanto do Banco Central como da presidente, para se fazer um corte maior na Selic e estimular as empresas brasileiras, fomentando a produção com juros mais baixos.
Essas atitudes são tomadas tarde demais, já que a equipe econômica não deixa de lado a “receita de bolo” e continua pensando que tudo que se faz terá de ser no mesmo padrão.
Na necessidade, busca-se o aumento dos impostos para que se mantenha o superávit primário e, com isso, as empresas acabam encolhendo, por conta da falta de recursos para reinvestimentos.
Já está na hora de mudar as estratégias, estimulando a produção, reduzindo o impacto tributário e aproveitando os recursos externos que estão com juros convidativos e que podem auxiliar, de maneira direta, o aumento das exportações, incentivos da produção interna e manutenção, ou até aumento da empregabilidade.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1114161