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28/03/2012Olívia Alonso
28/03/2012
Com um modelo de investimentos extremamente conservador, a gestora de recursos Dynamo nem olha para empresas pequenas e apenas em duas ocasiões em quase 20 anos apostou em companhias que não têm ações na bolsa. Para decidir sobre um investimento, sua equipe de 20 analistas discute os fundamentos da empresa até que não restem dúvidas. Por um lado, a forma de atuação da Dynamo deixa seus investidores totalmente confortáveis. Por outro, hoje a gestora enfrenta um problema: não consegue encontrar negócios bons o suficientes para colocar seu capital. “Estamos devolvendo dinheiro a investidores por falta de alternativas,” afirma Pedro Damasceno, sócio da gestora.
Isso está acontecendo, segundo o gestor, porque os preços não estão atraentes dados os fundamentos e condições das companhias. “Às vezes, quando não se tem ideia nenhuma, é melhor ficar quieto,” disse durante uma palestra na noite de segunda-feira, na Casa do Saber,em São Paulo. Adificuldade de encontrar bons investimentos não está na falta de tempo para estudar as companhias, mas sim na ausência de bons negócios a preços razoáveis. Na opinião dele, “o mercado brasileiro está caro”, ou seja, faltam empresas com qualidade, bons fundamentos e boas perspectivas com ações a preços justos.
E não é por falta de procurar. A equipe da Dynamo gasta cerca de 80% de seu tempo avaliando as empresas brasileiras, segundo o gestor. Como o número de empresas é pequeno, ele garante que dá para dedicar bastante suor a cada uma das candidatas a receber investimentos. “Aqui no Brasil temos um universo que dá para gastar bastante tempo com cada companhia,” diz. Entretanto, a vantagem de ter tempo para olhar caso a caso também traz consigo a desvantagem de as opções serem pouco numerosas.
Além disso, a Dynamo também tem suas próprias restrições. Segundo Damasceno, a gestora prefere não se aventurar em companhias de tecnologia e commodities. “Em tecnologia, fica difícil saber se o que é um bom negócio hoje continuará a ser amanhã”, afirma. Sem constrangimento, ele diz que a gestora, que tem no seu portfólio empresas como a Cielo, Ultrapar e Eternit, também não se considera capaz de investir em companhias de commodities. “Não nos julgamos capazes de ter um julgamento minimamente apropriado de como vai ser o preço do minério, por exemplo, então não dormimos bem com isso,” diz.
A Dynamo também prefere ficar de fora de investimentos em participações de empresas (private equity) pequenas ou médias. O motivo é o mesmo: a falta de capacidade que a gestora acredita ter para lidar com o mercado. Segundo Damasceno, os gestores só comprarão uma empresa para mudá-la – o que caracteriza o investimento em private equity – em casos “muito particulares”. Apenas duas vezes em sua história foi feito um aporte em companhias fechadas. Uma delas é a Technos, fabricante de relógios, que abriu o capital no ano passado. A outra é uma empresa de equipamentos para perfuração de petróleo, que ele preferiu não dizer o nome.
Mesmo diante da falta de opções, Damasceno em momento algum dá a entender que a gestora considere mudar suas rígidas regras de investimentos. A Dynamo usa o mesmo modelo de administração de recursos desde que foi fundada, em 1993. “Na época, não era comum acontecer de analistas se aproximarem das companhias, irem às assembleias e saber das estratégias de negócios,” diz o gestor. A prática que já era bastante comum nos Estados Unidos, mas pouco usada no Brasil.
Além de priorizar o estudo dos fundamentos das empresas, Damasceno também defende a estabilidade, em detrimento da velocidade. “Preferimos uma empresa que dê um retorno anual de 15% durante 15 anos, de uma forma mais estável e com bons retornos ao longo do tempo sobre o capital, a uma outra que dê uma rentabilidade de 100% em um ano,” afirma. Muitas vezes, diz ele, o retorno é desproporcional ao tempo gasto estudando a companhia. Como exemplo, ele cita a avaliação de empresas ligadas ao pré-sal, que demandou muito trabalho e pesquisa de sua equipe e acabou gerando apenas o investimento em uma empresa fechada do setor.
Apesar de o trabalho parecer estar bem distante do resultado, não é bem assim. A estratégia conservadora da Dynamo vem trazendo bons retornos. Com o fundo Cougar, que tem um patrimônio de R$ 1,6 bilhão, a gestora conseguiu uma rentabilidade de 137% em 60 meses, contra 47% do Ibovespa. Nos últimos 12 meses, o ganho é de 20%, segundo informações da adminsitradora de recursos. Além do exercício de avaliação da empresa, Pedro conta outros hábitos da Dynamo que contribuem para tal desempenho. Veja abaixo dez práticas da gestora que podem ser servir como sugestões e ideias para investidores pessoas físicas.
Dez ensinamentos da Dynamo:
1) Fuja de investimentos temáticos. A dica é não escolher as empresas pelo setor. “Se o investimento não estiver calcado em companhias boas, não dá certo”, diz Damasceno. “Aquela coisa de ‘este setor vai bombar’ não deu certo para nós.”
2) Opiniões contrárias ajudam. As decisões da Dynamo “são sempre um consenso de 20 pessoas. Fazemos o exercício diário de escutar opiniões contrárias e estimulamos isso. Nossa abordagem é com base na desconstrução. Um desconstroi o outro,” diz o gestor.
3) Conheça as pessoas por trás das empresas. “Sempre procuramos saber quem são as pessoas que estão fazendo a gestão das companhias,” diz o gestor. Ainda que seja difícil saber se são boas pessoas, vale a pena conhecê-las para poder evitar as pessoas erradas.
4) Atenção aos documentos. “Prestamos muita atenção aos estatutos das companhias, acordos de acionistas e documentos societários em geral,” afirma Damasceno, que destaca a importância de conhecer bem as companhias e suas regras.
5) Fale de novo com as mesmas pessoas. A decisão do investimento exige um trabalho intenso. “É bom falar com as mesmas pessoas, várias vezes. Muitas vezes, a repetição fez com que o modelo que construímos se materializasse ou não,” diz o gestor.
6) Não falamos só com a companhia. Na hora de avaliar um negócio, a Dynamo busca informações também com competidores, especialistas e fornecedores.
7) Busque investimentos estáveis. É bom evitar apostar em empresas que possam ter suas regras de atuação alteradas. “De maneira geral, o investidor pessoa física deveria buscar negócios mais estáveis, menos suscetíveis às mudanças de regulamentações,” afirma Damasceno.
8) Não erre. Para a Dynamo, evitar grandes erros é tão importante quanto ter um grande acerto. “A lógica do juro composto faz você multiplicar seu dinheiro.”
9) Esteja confortável. Para comprar uma ação, é preciso conhecer a empresa a ponto de estar tranquilo e seguro com o investimento. “Procurar a zona de conforto, ainda mais se o investidor é pessoa física, é fundamental”.
10) Características de um bom negócio. Distribuição e economia de escala caracterizam bons negócios, na visão de Damasceno. “Às vezes uma multinacional tem muito sucesso lá fora, mas aqui não tem uma boa distribuição. É como no caso das cervejas. Só uma companhia tem escala de distribuição que atende todos os pontos de uma só vez. É uma característica clara de vantagem competitiva. O mesmo serve para os grandes bancos de varejo no Brasil,” diz.