Terra: Confira as ações que ganham e as que perdem com a queda da Selic
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23/04/2012Aplicações que têm rentabilidade atrelada aos juros, como os fundos de renda fixa, DI e títulos públicos, são afetados
SÃO PAULO — Com a redução da taxa básica de juros para 9% ao ano e a perspectiva de uma nova queda em maio, os investimentos que têm rentabilidade atrelada à Selic, como os fundos de renda fixa, fundos DI e alguns títulos públicos, são diretamente afetados e passam a ter um retorno menos atraente. Consultores ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que o investidor que quiser ter rendimento melhor em sua aplicação terá que revisar sua carteira de investimento no novo cenário. E isso inclui correr um pouco mais de risco.
— Estamos caminhando para um contexto totalmente novo em termos de investimento de renda fixa. Em 2002, a Selic era de 23,5% ao ano. Hoje, está em 9% e pode cair ainda mais. É uma redução de 14,5 pontos percentuais em uma década. O investidor vai escolher entre ganhar pouco aplicando na renda fixa ou simplesmente gastar seu dinheiro. Quem quiser um retorno melhor terá que necessariamente correr mais risco — diz o consultor financeiro, Mauro Calil, gerente Nacional do Instituto Nacional de Investidores (INI).
Calil explica que, em países desenvolvidos, onde os juros estão entre zero e 1% ao ano, aplicações com baixo risco tradicionalmente oferecem retornos menores. O Brasil é exceção. Embora, os 9% da Selic estejam num patamar muito elevado frente ao resto do mundo, a tendência é que o juro continue caindo, salvo alguma turbulência externa ou um repique muito acentuado da inflação. Para o educador financeiro Ricardo Pereira, o investidor que quiser ganhar mais terá de ter uma postura mais ativa:
— Está acabando o tempo de aplicar na renda fixa e esquecer. O cenário de juro mais baixo vai exigir do investidor mais informação, leitura e conhecimento dos demais produtos financeiros do mercado.
Fundos renderam 3,3%; poupança, 1,6%
Pereira afirma que, com a queda de juro promovida pelo Banco Central, a poupança já se tornou mais rentável que a maioria dos fundos de renda fixa. Antes da baixa da Selic, os fundos vinham num ritmo de ganho mais acelerado que a caderneta. Eles renderam 3,3% este ano, até março, enquanto o ganho da poupança, no mesmo período, foi de 1,6%. Agora isso deve mudar.
Por lei, a poupança rende a Taxa Referencial (0,10% em média, em março) mais 6% ao ano, sem desconto de Imposto de Renda. A rentabilidade dos fundos de renda fixa acompanha a Selic, agora mais baixa, e sobre os rendimentos incide alíquota de IR, de 15% a 22,5%, dependendo do prazo de resgate da aplicação. E os gestores cobram taxa de administração. Em 20 cenários analisados pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), com Selic de 9%, em apenas quatro os fundos DI ganharam da poupança em rentabilidade.
— Com a atual Selic, a poupança só perde em rentabilidade para os fundos DI quando a taxa de administração for menor do que 0,50% ao ano, independentemente do prazo de resgate — afirma Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac.
Os consultores dizem que o investidor que vendeu o carro para trocar por um veículo zero ou o apartamento para comprar um maior, por exemplo, deve aplicar os recursos na poupança, se for usá-los em até seis meses. Para quem já tem o dinheiro investido na renda fixa, Mauro Calil avalia que é melhor manter-se na aplicação. A migração só deve acontecer caso a Selic continue caindo e a remuneração da poupança permaneça a mesma. Por enquanto, o governo nega que vá mexer no rendimento da poupança, mas no mercado já se fala que a caderneta pode ser taxada com IR ou passar a seguir a Selic.
— Para prazos de até seis meses, a poupança é a aplicação mais vantajosa. Entre seis meses e um ano e meio, um Certificado de Depósito Bancário (CDB) pode ser alternativa interessante, desde que ofereça rentabilidade equivalente ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Para prazos além de cinco anos, os fundos de ações podem oferecer ganho mais interessante — diz Calil.
O educador financeiro Ricardo Pereira lembra que em cenário de juro mais baixo, a Bolsa tende a ser beneficiada. O crédito fica mais barato, o consumo aumenta e há um impacto positivo no desempenho das empresas. Mas ele alerta que a Bolsa também reflete o cenário internacional. E neste momento há riscos pairando no ar.
— Está todo mundo de olho se a China vai crescer mais ou menos de 8% e se a economia americana está se recuperando. Na Europa, depois da Grécia, é a vez da Espanha deixar os investidores nervosos, com a possibilidade de precisar de ajuda financeira. Tudo isso, vem se refletindo no pregão brasileiro — diz Pereira.
Ibovespa se valorizou 20% neste ano
Este ano, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), chegou a se valorizar 20%. Mas, até a semana passada, o ganho tinha se reduzido à metade. Analistas veem espaço para uma valorização para a Bolsa brasileira este ano e no próximo, considerando que a economia cresça entre 3% e 4%, a crise na Europa não saia de controle e EUA e China tenham um bom desempenho do PIB.
— Esses são os fatores de risco para a Bovespa neste momento. Mas, como o investidor deve olhar para esta aplicação com horizonte de longo prazo, a hora pode ser boa para colocar 40% dos recursos disponíveis para investimento num fundo de ações ou num fundo multimercado. E, como a queda de juro favorece o aumento do consumo, uma alternativa para reduzir o risco é focar o investimento em ações ligadas a esse setor, com mais chance de se valorizar — avalia o consultor financeiro e diretor do Grupo Par, Marcelo Maron.
Nos últimos 12 meses, os fundos de ações perderam 6,8%. Já os multimercados, ganharam 15% no mesmo período.
— Os fundos multimercados mesclam em sua carteira ações e papéis de renda fixa. Alguns até garantem o principal investido em caso de perdas. Podem ser alternativa para quem não quer se expor totalmente aos riscos da Bolsa — diz Marcelo Maron.
O consultor Mauro Calil lembra que os fundos imobiliários também são uma alternativa em renda variável, com menor volatilidade que a Bolsa.
— Os fundos imobiliários aplicam os recursos em todo tipo de negócio com base imobiliária, seja imóveis prontos ou em construção. Se o imóvel se valoriza, o investidor ganha. A diferença para os fundos de ações é que os fundos imobiliários não oscilam tanto, oferecendo mais segurança. Eles têm oferecido uma rentabilidade que pode variar de 0,3% a 0,8% ao mês.
Atualmente, há mais de 90 fundos desse tipo no mercado, com patrimônio de R$ 6 bilhões.
http://oglobo.globo.com/economia/com-selic-menor-investidor-pode-ousar-mais-4711750#ixzz1szUzOm1s