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08/05/2012Cenário de juros baixos já precificados no mundo até o final de 2014 permite um certo conforto no planejamento econômico brasileiro avalia autor do trabalho.
Planejamento de longo prazo, racionalização de gastos e atração de investimentos privados são aspectos chave para que o Brasil consiga superar uma série de desafios estruturais e conjunturais e vingar nesta década como uma potência economica mundial. A avaliação é do Membro do Conselho de Administração da ANEFAC e sócio da INTERACTA Participações, Andrew Frank Storfer, no trabalho Panorama Econômico Brasileiro e a Crise Mundial, recentemente apresentado para os integrantes do Comitê de Economia da entidade. No documento, ele discorre sobre os principais fatos recentes da economia mundial e o reflexo para o Brasil nos próximos anos.
No caso norte-americano, após um período de perspectivas muito negativas, teve início a reversão da queda de produtividade e o início da recuperação de confiança do consumidor e de atividade econômica. Porém – destaca – ainda há queda de vendas de imóveis usados e queda de construção de novas casas e a inflação ao consumidor está aumentando. Portanto, enfatiza, além do risco de oscilação econômica, com altos e baixos se sucedendo, é provável que a economia fique em um patamar “morno” por alguns anos. Isto pode ser visto por conta do excesso de liquidez sem reação da economia implicando em despejo de recursos monetários no mercado e baixas taxas de juros por bom tempo.
De acordo com Andrew Storfer, o plano de consolidação fiscal não é suficiente para estabilizar a dinâmica da dívida do governo no médio prazo. Por isso, o rebaixamento aplicado ao rating do país refletiu a visão de que a efetividade, estabilidade e previsibilidade da formulação de políticas nos EUA se enfraqueceram em um momento de desafios fiscais e econômicos. Para ele, esta perspectiva negativa (aplicada desde abril de 2011 pela S&P e previstas por outros desde 2009) pode sofrer novo rebaixamento em dois anos, caso ocorra a combinação de um ou mais fatores como redução dos gastos inferior ao acordado, aumento de taxas de juros ou novas pressões fiscais durante esse período, fazendo com que a dívida do governo evolua para um patamar mais elevado ainda. Os déficits gêmeos (combinação de déficit fiscal e déficit comercial) que há tantos anos preocupa o governo norte-americano e por consequência as demais economias mundiais, teriam, neste caso, potencializado sua força negativa na economia. Segundo ele, os programas e acordos costurados após a crise não conseguiram promover um programa de consolidação fiscal mais abrangente e efetivo que garanta a sustentabilidade fiscal de longo prazo.
Para Andrew Storfer “Raras vezes se teve tamanho desalinhamento nos EUA entre Poder, Economia e Sociedade”.
Porém, os fundamentos econômicos dos EUA continuam basicamente os mesmos, permitindo que acordos e ações corretivas possam manter a economia em crescimento.
Eurolândia
Na avaliação sobre a União Européia, o conselheiro da ANEFAC frisou que o projeto sempre foi basicamente político e que enfrenta dificuldade de interferir individualmente em prol do bem comum. Não conseguem resolver adequadamente as etapas típicas de problemas econômicos conjunturais e estruturais: reconhecer o problema, encontrar solução técnica, encontrar solução política e ter a coragem para fazer a implementação .
De fato, para ele, o provável baixo crescimento será prolongado e os problemas políticos vão se acentuar na medida em que não vai se atacar o ponto central que é a combinação perversa de déficit público crescente, mais dívida pública aprofundada, desemprego em larga escala, baixo crescimento e inflação. Muitos países da comunidade européia simplesmente não controlam suas políticas monetária e fiscal. “Mesmo com medidas mais duras (aumento de impostos, cortes de serviços públicos, aposentadorias e salários de funcionalismo) a situação piora para o grupo dos cinco piores (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália).
Neste cenário, os investidores internacionais exigem juros mais elevados para financiá-los. A ação forte do Banco Central Europeu (BCE) com juros baixos para bancos que financiam governos tem folego para três anos. Por isso, a escolha tem que ser entre calote parcial ou perda de soberania na política econômica, em troca de um pacote de salvamento. Para ele, a Espanha, com PIB que não cresce há onze trimestres, está em situação crítica e não terá escolha pois sua dívida é muito maior que soma de Grécia, Irlanda e Portugal. “União Europeia e o FMI podem não ter recursos suficientes. E a Itália é a próxima da fila. Por isso alguns emergentes, incluindo o Brasil mas principalmente a China, estão sendo convidados a contribuir”, diz.
Para Andrew Storfer, a Crise Europeia está assim: os superavits devem ser elevados e serem maiores do que divida/PIB (taxa real de juros – taxa crescimento economico). Se isso não ocorrer, divida/PIB cresce em espiral. Além disso, como crise de dívidas soberana e dívidas bancárias caminham juntas, com redução da oferta de crédito e encarecimento de recursos, diminui ainda mais o crescimento. “Em crise, um lado da solução é aumentar superavit mas por outro, com cortes, a economia não cresce. Qual o ponto certo? Para mim, o 1º passo é ajudar com taxa real de juros menor, o que está sendo feito desde o final do ano passado. Mesmo com baixo crescimento e se elevando o superavit, isso controla a equação por um certo período. Depois, o 2º passo é aproveitar este tempo para melhorar a produtividade e as condições de cada país”.
Para ele, a Grécia é um capítulo à parte que merece ter alguns dados relatados. Na terra de Sócrates e Aristóteles, a população ativa é de 4,4 milhões de pessoas, das quais 1,5 milhão trabalha para o governo, outros 1,5 milhão são autonomos ou empregados em empresas com até 9 funcionários, e onde 1/3 da atividade economica não paga impostos. Assim, as receitas fiscais são menores que 30% do PIB. Outra questão é a diferenciação entre Eurolândia e União Européia. “Se sair do Euro, a Grecia sai da UE? Se sim, vão vender para quem?” diz.
China
Outro grande vetor de pressão sobre a economia internacional é a China, que lida hoje com inflação crescente. Storfer pontua que a reação da China à nova crise (como denomina este repique de crise que se fortificou desde 2008) é diferente da anterior (China acabou contribuindo com cerca de 50% do crescimento mundial em 2009). Seu PIB crescerá menos, mas ainda com vigor, cerca de 8% ao ano nos próximos dois anos. E a demanda doméstica ainda é (e será ) o principal “driver”. “A lição de casa prioriza controle fiscal, controle da inflação e aumento sustentado do consumo. E este fato contribui para uma visão mais pessimista do desempenho global nos últimos tempos”.
Com estes dados, o conselheiro da ANEFAC avalia que a situação pode ser qualificada como sem pânico imediato (como em 2008) mas potencialmente ruim nos próximos anos com crescimento mundial baixo e com recuperação lenta. Temos possibilidades significativas de desdobramentos políticos no mundo, como fortalecimento de movimentos políticos, religiosos, xenófobos e protecionistas. Os juros permanecerão baixos no mundo pelo menos até final de 2014 (BCE precificou juros baixos para os próximos 3 anos e FED – EUA já avisou que ficarão baixos pelo menos até o final de 2014). Girarão em torno de 2 % ao ano.
Brasil
Este cenário de juros baixos já precificados no mundo até o final de 2014 (salvo catástrofes) e o baixo crescimento até lá apesar de não ser um cenário que o ninguém gostaria, de certa forma facilita o planejamento econômico para o Brasil. Segundo Storfer “Isto é um tipo de “Presente” para o governo brasileiro (especialmente Presidente Dilma) que até o final de seu mandato (2014) sabe com um bom grau de certeza que os juros no mundo ficarão baixos e mercados Europeu e Americano terão baixo crescimento. Bom ou ruim, permite um certo conforto no planejamento econômico brasileiro, pois se sabe que o fluxo de recursos para o Brasil continuará alto (com grandes investimentos pois o grande mercado potencial aqui crescerá medianamente mas de forma sustentada). Esta boa previsibilidade de manutenção de juros baixos no mundo e a previsibilidade de bom fluxo de recursos para o Brasil é que vai colaborar fortemente para reduzir a taxa de juros real para novo patamar mais baixo, que em minha opinião se sustentará entre 3,5% e 4,0 % ao ano.”
Isto joga para o Brasil a responsabilidade maior ainda de fazer a sua parte. E é esta a grande dúvida. “O que ocorre no mundo hoje é uma corrida de carros onde por um acidente haverá uma relargada. Os carros se aproximam e todos que estavam mais atrás têm uma chance melhor. Ou, se quiser, é como uma avenida em que o sinal fecha. Quem estava na frente é obrigado a parar ou reduzir e quem vem atrás pode encostar em quem estava na frente. Resta saber se o governo brasileiro aproveita esta chance”.
Segundo Storfer, “Em economia o imponderável sempre representa um fator importante nas decisões, de modo a se poder ajustar o caminho caso o cenário verificado seja diferente do previsto. Por isso , a previsibilidade de juros mundiais e do fluxo de recursos se tornam fatores de grande contribuição para o planejamento. O Brasil “ganhou” 3 anos (ressalta-se: até o final do mandato da atual presidente) de um cenário mais previsível. Agora o governo brasileiro tem a chance de implementar ações dentro de planejamento de longo prazo, aproveitando esses 3 anos para ganhar competitividade e permanecer no “pelotão da frente” na relargada.”
Em seu trabalho Andrew Storfer aborda os principais pontos para que o Brasil ganhe competitividade e que entre em um novo patamar de crescimento e desenvolvimento sustentado. Em anos anteriores (até 2010) renda e emprego cresceram exponencialmente, o crédito foi farto e fortemente acelerado, o Brasil atingiu grau de investimento e os altos preços de commodities ajudaram a balança comercial, fazendo com que medidas estruturais fossem adiadas e a ineficiência ficasse escondida e em segundo plano. O termo “Reformas” ficou quase que proibido de ser pronunciado e praticamente sumiu, como se todas as reformas (que sequer foram propostas e iniciadas) tivessem sido implantadas.
De agora em diante, os aspectos estruturais (que continuam fundamentais) se tornam urgentes. A conjugação inflação x crescimento x crédito x juros assume outra forma. A contenção da inflação deixa de ser um fim em si mesmo, até porque o grande vilão é o setor de serviços, menos suscetível aos juros básicos. Com os juros básicos menores (Selic) o enorme spread bancário fica mais evidente e a pressão para sua redução aumenta muito. Neste ponto, a racionalização de gastos do governo (que gasta muito e mal) contribui enormemente, pois reduz as necessidades de financiamento do governo, que desemboca em menores juros, que reduz ainda mais os gastos com juros do governo e assim, em um movimento de gangorra leva a uma economia mais saudável.
O problema da escassez de mão de obra (com um quase pleno emprego) leva à contratação de mão de obra menos qualificada, o que diminui a produtividade e competitividade da economia. Isso só se resolve no médio e longo prazo, com uma melhor formação de mão de obra.
Em seus estudos Andrew Storfer destaca pontos que de modo geral se classificam em aspectos de racionalização da atuação do governo e aspectos de melhor ambiente empresarial, de modo a atrair investimentos privados. Neste aspecto Storfer destaca que sem a iniciativa privada investindo fortemente em infraestrutura, por exemplo, dificilmente teremos um País em condições de competir com igualdade de condições com o resto do mundo. “Para um Brasil maior e competitivo é fundamental um ambiente favorável aos negócios, com regras claras para investidores e empresários e que sejam mantidas ao longo do tempo, um ambiente desburocratizado e com menor carga tributária para quem investe, crédito mais barato e mais acessível a pequenas e médias empresas que permitam uma melhor irrigação pulverizada na economia. Isso é que vai dar confiança e segurança ao empresário e ao investidor”.
Na opinião de Storfer, “O governo apenas tem feito remendos e ações conjunturais. Deveria aproveitar esse momento do Brasil e do restante do mundo para realizar um planejamento mais longo e ter a coragem de implementar as mudanças estruturais necessárias, que são as que podem garantir, de fato, um futuro melhor para as novas gerações. Não podemos esquecer que daqui a pouco haverá nova largada na corrida econômica. Tomara que o Brasil possa continuar no pelotão da frente”.