Essa semana, o Brasil inteiro foi surpreendido por um atentado violento dentro de uma escola em Goiânia. Um adolescente de 14 anos abriu fogo na sala de aula do Colégio Goyases, escola particular.
O jovem é aluno do oitavo ano e durante durante o intervalo da aula, tirou da mochila a arma, uma pistola .40 e efetuou os disparos aleatoriamente. Quando ele se preparava para recarregar a arma, professores e outros alunos conseguiram conter o adolescente. Das seis vítimas dos disparos, duas morreram e quatro estão em estado grave.
A violência sistemática dentro de escolas, tanto presencial como virtual, não é novidade no âmbito educacional, e se faz cada vez mais presente na vida de estudantes e familiares.
Como e porque ocorrem casos assim?
O termo bullying, que em porguguês pode ser traduzido livremente como assédio moral, é usado para descrever todo tipo de atitude agressiva, verbal ou física, feita de maneira intencional e repetitiva, mesmo que sem qualquer motivação específica aparente.
Em geral, a vítima teme o agressor em razão das ameaças ou mesmo da concretização da violência física.
O problema pode acontecer em várias esferas da sociedade, mas os casos mais preocupantes são dentro das escolas. Lá, os jovens e adolescentes ainda estão em formação, e além de não saberem lidar com as diversidades da vida, pode acabar sofrendo traumas que carregarão para o resto de suas vidas.
Muitas escolas, por sua vez, erram ao não admitirem a existência desse tipo de comportamento dentro de suas dependências, envolvendo alunos e, até mesmo, professores.
Muitos jovens e adolescentes reservados e educados, de boa aparência, com boas notas e bem integrados ao convívio social podem ser agressores em potencial.
Os sinais são discretos, mas um olhar um pouco mais atento pode detectá-los.
Aceitar e levar o problema a sério é essencial para trabalhar de forma efetiva o Bullying!
O psiquiatra André de Mattos Salles, de Brasília, fala que há 20 anos o bullying e os problemas que um adolescente enfrentava ao longo da vida eram restritos a determinados contextos.
Poderia ocorrer um desentendimento com colegas na escola, mas, ao chegar em casa, essa criança ou jovem encontrava certo conforto que contrabalançava sua angústia.
Atualmente, como consequência da era das redes sociais, a vítima pode receber ameaças e ser exposta a conteúdos vexatórios ao longo das 24 horas do dia.
Basta um celular para que a situação constrangedora seja filmada e inserida no youtube e, em algumas horas, o mundo inteiro estará vendo.
O impacto disso para uma personalidade em formação pode ser avassalador.
Mais da metade desses agredidos são de jovens entre 11 e 19 anos de idade, e um terço deles têm falado em suicídio, apontam os profissionais da área médica.
Conclusões nas pesquisas da EJA – Educação de Jovens e Adultos – mostraram que a escola pública está longe de ser um espaço democrático, sendo muitas vezes um ambiente hostil que desestimula a permanência dos alunos no ensino regular.
Por outro lado, existem muitos educadores preocupados em consolidar a escola como um local de bem-estar, que combate a violência e forma novos cidadãos.
Veja 9 aspectos do assunto:
1. O que leva o autor do bullying a praticá-lo?
Os agressores costumam ser populares na escola e ter uma postura agressiva para com os professores, os colegas e a família. Já as vítimas costumam se isolar e ter poucos amigos.
É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para ele o sofrimento do outro não é motivo para deixar de agir assim.
A tendência é de que, caso não existe nenhum tratamento para esta forma de agir, ele seja assim por toda a vida.
2. Converse com seu filho
É importante que os adultos discutam esse assunto com as crianças. Perceba se seu filho entende o que é o bullying, e o que ele causa a ele e aos outros. Fale sobre as diferentes formas sob as quais isso pode se manifestar.
Será que seu filho já viu alguma delas aconteceu? Já esteve envolvido nessa situação? O que ele acha sobre isso?
Incentive àcomunicação. Deixe as crianças a vontade para perguntar e comentar sobre o bullying. Fique à disposição para que elas se sintam confortáveis em conversar com você sobre o assunto.
3. Deixe a criança saber que ela não está sozinha
As crianças têm sua própria linguagem, por isso é importante criar um vínculo de confiança, tendo uma resposta pronta para dar da maneira que ela entenderá.
O simples ato de estar por perto, disponível, pode ajudar muito. Faça com que elas sintam seu apoio.
4. Mantenha a calma
- Se você sofre com isso, respire fundo, sem demonstrar suas emoções negativas.
- Não demonstre aos Bullies que você se sente prejudicado e que eles obtiveram sucesso no objetivo de atormentá-lo. Apenas se afaste.
- Bullies ficam satisfeitos quando fazem com que os outros se sintam prejudicados ou desconfortáveis; portanto, reagir a eles apenas os encorajará ainda mais.
- O Bully quer atenção, e ele sentirá prazer se perceber que está afetando você.
Para os pais:
- Aconselhe a criança a não reagir com choro ou com reações violentas.
- Converse regularmente com os professores e diretores de sua escola. Participe da educação do seu filho. Saiba o e-mail e o telefone do professor.
- As crianças que sofrem este tipo de constrangimento sentem-se irritadas. Isso pode ser pior, porque quanto mais irritada a criança fica, mais o agressor se sente no poder.
5. Quando você descobre que seu filho é um agressor
Se seu filho está praticando bullying, é preciso agir. Deixe claro para o jovem que você leva o assunto muito a sério. Faça com que que vocês, como pais, absolutamente não aprovam esse tipo de comportamento.
A falta de limites está diretamente associada a esse tipo de ocorrência, pois o jovem pode sentir que suas atitudes estão respaldadas pelos pais. Passe mais tempo com ele, e supervisione com atenção suas atividades.
Converse com um orientador da escola ou profissional de psicologia para buscar auxílio extra.
Outra dica importante: dê vazão aos talentos da criança, com estímulos para que ela se envolva em atividades sociais como clubes, aulas de música e esportes. Esse processo de socialização pode fazer toda a diferença para que um indivíduo em formação aprenda a respeitar as diferenças em seu convívio social.
6. Como identificar se há tendências a ser um agressor
Observe se ele:
- Insulta, menospreza, ridiculariza e difama sem sentir culpa.
- Faz brincadeiras ou gozações com os colegas constantemente, coloca apelidos pejorativos ou prefere chamar os colegas pelo nome e sobrenome.
- Faz ameaças, dá ordens, domina e intimida outros.
- Tenta exteriorizar sua autoridade sobre alguém frágil entra a família, primos ou colegas
- Aparece com objetos ou dinheiro sem justificar sua origem.
- Envolve-se sempre em discussões e desentendimentos em casa, na escola, ou mesmo em festinhas.
- Exibe certo ar de superioridade quando volta da escola.
7. Eduque seu filho desde quando criança
Ensine-o a ter empatia pelos outros. É preciso que eles entendam a diferença entre o que é ser engraçado e o que é ser rude, grosseiro e cruel.
Os adultos são os únicos que podem ensiná-los sobre isso, e, na maioria das vezes, o ensinamento será passado a partir da forma que eles próprios se tratam.
Por exemplo, é cruel e grosseiro rir pelas costas de um adulto e fingir ser amigo quando ele estiver por perto. Muitas pessoas fazem isso sem pensar que as crianças estão observando tudo para repetir depois.
8. O papel dos professores
O professor tem papel fundamental nisso tudo. É ele quem está presente a maior parte do tempo em que tais atitudes acontecem, e pode identificar os autores, espectadores e os alvos desse constrangimento
Embora existam as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar, o educador precisa estar atento. Deve saber distinguir uma simples piada de uma agressão verbal.
Para ajudar, professores podem criar encenas em sala e ajudar as crianças a resolvê-las, ouvindo um ao outro e usando as expressões corretas.
9. Como agir com os alunos envolvidos em um caso de bullying?
A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade.
O foco deve se voltar para a recuperação de valores essenciais, como o respeito pelo que o alvo sentiu ao sofrer a violência.
A escola não pode legitimar as atitudes do autor da agressão, mas também não deve humilhá-lo com medidas coercitivas, como a proibição de frequentar o intervalo.
É preciso, também, conscientizar o espectador do bullying, que endossa a ação do autor, e mostrar a ele a gravidade disso.
A vítima, que foi constrangida, precisa ter a autoestima fortalecida e sentir que está em um lugar seguro para falar sobre o ocorrido. Por isso, é de extrema importância que as portas de diálogo estejam abertas dentro da escola.
Essa situação, infelizmente, é mesmo comum.
Observe: Na Inglaterra, um vídeo foi levado aos pais de Charles, mostrando seu filho, um menino gordinho, de 12 anos, e que não reagia às agressões que sofrera em sua escola.
Disse ele: “Eles sempre me chamavam de gordo e diziam para perder peso. Davam tapas na minha nuca e faziam-me tropeçar e cair”.
Depois de levar socos no rosto e na barriga de dois jovens maiores, ele violentamente levantou um dos seus agressores e o jogou contra o chão. Tudo isso foi filmado. O vídeo se tornou viral.
Entrevistado após nove anos, Charles contou que sofreu bulliyng durante um período de três anos e que era alvo das maldades dos colegas, mas não reagia porque tinha medo.
Ana Paula Siqueira, especialista em Direito Digital diz:
“Quando a violência é velada por intermédio de aplicativos e celulares ou na internet, costuma-se encarar, equivocadamente, tais comportamentos como brincadeiras normais entre jovens”.
No entanto, a violência virtual tão presente nas escolas e considerada tão irrelevante pelos educadores, é a que mais afeta as vítimas porque ultrapassa o aspecto físico.
Atinge o psicológico do jovem e repercute nos tribunais brasileiros e nas clínicas psiquiátricas”.
No caso das escolas, geralmente, as testemunhas, em maior parte os alunos, convivem com a situação calados, por terem medo de serem as próximas vítimas.