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Heloísa Noronha
Colaboração para Universa
14/04/2020 04h00
A libido varia de pessoa para pessoa: umas são mais animadinhas para o sexo, outras menos e, sabendo equilibrar desejos e vontades, todo mundo consegue transar bem. Quem é viciado em sexo – ou melhor, sofre de transtorno do comportamento sexual compulsivo – não tem controle sobre os próprios impulsos. O resultado é uma escalada de sofrimento e decadência física e moral muito bem representada em filmes como “Shame”
(2012) e “Ninfomaníaca Vol. 1 e Vol 2” (2013).
Mas o que leva homens e mulheres a partirem nessa busca frenética que, em vez de prazer, só provoca angústia e causa problemas em todas as esferas da vida. A resposta está no cérebro.
Segundo Cirilo Tissot, psiquiatra e diretor técnico da Clínica Greenwood, em Itapecerica da Serra (SP), a comparação de tomografias ou outros exames cerebrais dos viciados em sexo não vai mostrar qualquer diferença com as demais. “O que acontece, em termos leigos, é que as pessoas com diagnóstico de transtorno de comportamento sexual compulsivo têm uma importante alteração nas funções cerebrais relacionadas ao prazer e à libido e no sistema de controle de impulsos. O compulsivo por sexo tem os estímulos sensoriais muito mais agudos e frequentes . Trata-se de um desejo que, muitas vezes, é incapaz de medir riscos e torna a busca pelo sexo um ato incontrolável. Na medida em que o transtorno progride, o quadro pode ser comparado ao de viciados em drogas químicas, como a cocaína”, conta. “Do ponto de vista neurobiológico, isso está ligado a alterações no sistema de recompensa. A exposição crônica e repetitiva a situações sexuais faz com que o sistema de recompensa se torne muito dependente deste tipo de estímulo”, explica Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e terapeuta sexual pelo Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade),
A área da recompensa no cérebro se situa bem na base do crânio e é chamada de Nucleus Accumbens. Nessa região há uma grande concentração de neurônios de neurotransmissão de dopamina (substância que promove sensação de bem-estar e prazer) e de opioides, que reforçam ainda mais o desejo por determinado estímulo. Além disso, outra área do cérebro chamado amígdala é responsável por armazenar as memórias de cada estímulo, classificando-os como medo, amor, desejo sexual, prazer, etc. E a área frontal do cérebro tem neurônios de GABA, neurotransmissores ligados à calma e ao relaxamento, que vão até a área de recompensa e tentam frear o comportamento.
Assim, o comportamento sexual compulsivo pode ser compreendido como um estado de desregulação do sistema de recompensa em que o ponto de ajuste está patologicamente deslocado. “A dopamina é um neurotransmissor excitatório e inibitório, dependendo do local onde atua, apresenta diferentes funções. Portanto o desejo pelo sexo é impulsionado pela liberação de dopamina no cérebro, o que nos leva a ignorar os estímulos negativos, além de desencadear sentimentos de êxtase e excitação, podendo criar uma dependência poderosa. O vício ocorre quando o impulso natural para o prazer sexual fica fora de equilíbrio e, em vez de simplesmente motivar, ele domina e controla. O sujeito sente-se dominado pela onda de prazer gerada pela dopamina e, por isso, se sente impulsionado a buscar mais sexo para se satisfazer”, pontua a psicóloga Elaine Di Sarno, especializada em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e em Terapia Cognitivo-Comportamental, ambas pelo Ipq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Conforme os estudos da fisiologista Cibele Fabichak, autora do livro “Sexo, Amor, Endorfinas e Bobagens” (Matrix Editora), o mecanismo que gera o prazer também é a base que explica como o vício pode se “instalar” no indivíduo. “Isso inclui a adição por drogas, internet, videogame, jogos, compras e, claro, por sexo. Desde 1970 pesquisas sugerem que comportamentos apetitivos excessivos, incluindo os sexuais, podem, com o tempo e com altas taxas de engajamento, tornar-se uma síndrome de dependência, apesar da ausência de substâncias exógenas”, comenta.
O que define o transtorno e como tratá-lo? O psiquiatra Cirilo Tissot assegura que existem critérios diagnósticos bem definidos a esse respeito e que seguem a mesma linha dos aplicados para os compulsivos por drogas, compras, jogos eletrônicos, etc. “Há sete características para análise e o diagnóstico do transtorno pode ser apontado se três ou mais desses pontos tiverem sido praticados nos últimos doze meses”, diz. São eles:
- Tolerância: ocorre quando as pessoas se entregam às práticas sexuais cada vez mais intensas e frequentes para obter a mesma satisfação que tinham antes com menos sexo. Com o aumento do grau de tolerância para adquirir prazer, a pessoa precisa de muito mais parceiros hoje do que tinha no início do quadro da doença.
- Abstinência: se a pessoa para de ter relações, começa a sentir um mal-estar físico e psicológico. Só o fato de tentar diminuir faz com tenha desconforto físico ou mental,
- Tempo: no dia a dia, ações relacionadas a sexo – não propriamente a relação sexual em si – ocupam bastante tempo. Exemplos: masturbação, ver filmes pornográficos, buscar parceiros em aplicativos de encontros, etc.
- Descontrole: ao perceber que enfrenta o problema a pessoa tenta controlar a situação, mas não consegue. Todas as vezes em que entra em contato com o processo acaba perdendo o controle, fica compulsiva, não consegue manter uma relação e ficar satisfeita. “A compulsão é o fracasso na capacidade de satisfação da pessoa”, explica o médico.
- Sofrimento: mesmo sofrendo muito, o compulsivo não consegue parar.
- Isolamento: a pessoa deixa de cumprir com compromissos sociais e até profissionais em função do sexo.
- Histórico familiar: conforme já disse Elaine di Sarno, o contato sexual com adultos na infância, experiências sexuais prematuras e histórico de compulsivos na família por drogas químicas e álcool são pontos a serem considerados. Tais contextos podem levar a quadros de transtorno sexual, indicam estudos.
Em termos neurológicos, segundo Cirilo, não existe diferença alguma entre os sexos biológicos. “Por outro lado, estatisticamente, para cada oito homens existe uma mulher compulsiva por sexo. Essa diferença de notificações clínicas está relacionada ao contexto de nossa sociedade machista. Uma mulher que perde o que se entende como limites para o sexo é muito mais censurada, desqualificada e objeto de comentários pejorativos do que um homem. A visão distinta não esconde o quadro real encontrado dentro do consultório, pois ambos têm um grau de sofrimento muito semelhante”, argumenta.
Na opinião de Cibele Fabichak, endossada por outros especialistas, a partir do momento em que a pessoa toma consciência de que o comportamento sexual excessivo começa a ocupar espaços e tempos de sua vida e atividades é imprescindível buscar ajuda. “A procura por um psiquiatra ou médico de confiança é fundamental, visto que algumas classes de medicamentos podem ter efeitos sobre o seu controle: antidepressivos, estabilizadores de humor, antiandrógenos, antagonistas opioides, entre outros”, explica. “E, mais importante ainda, é fazer sessões de psicoterapia, sendo que o modelo de psicoterapia com maior evidência de eficácia é a terapia cognitivo-comportamental. A princípio, há controle dos comportamentos. Se o indivíduo consegue ficar mais de um ano sem comportamentos compulsivos, ele é considerado em remissão. Porém, como toda dependência, pode haver recaídas, portanto é necessário manter o tratamento medicamentoso e psicoterápico em longo prazo”, informa Eduardo. “Até o momento, não há cura, assim como para muitas das adições, mas o controle é possível”, completa Cibele.
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