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24/11/2020Busca por conforto em casa deve marcar Black Friday na pandemia
Tendência é que cresçam compras de móveis e eletrodomésticos, materiais de construção para reformas e produtos para cuidados pessoais
Marcos Rogério Lopes, do R7
Pandemia acabou com as dúvidas das empresas sobre utilidade do e-commerce
Pixabay
O novo consumidor ou os novos hábitos de consumo vão ditar a Black Friday de 2020, realizada em meio à pandemia do novo coronavírus. Móveis e produtos para residência devem ter um salto nas vendas maior do que o de anos anteriores e podem ter destaque pela primeira vez itens como materiais de construção, normalmente pouco afetados pela tradicional data de descontos no varejo.
O economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Fabio Bentes, diz que a Black Friday deste ano vai consolidar a tendência de que o brasileiro está mais preocupado com seu a renovação de sua casa e com cuidados pessoais que antes não dava tanta importância.
“Se você comparar o varejo deste ano com o do ano passado, verá uma mudança clara de comportamento. As vendas de móveis e eletrodomésticos, assim como a de materiais de construção, subiram mais de 20% em comparação com o que se comercializava no início de 2020”, afirma o economista.
Segundo ele, o consumidor está usando o dinheiro economizado com a redução nos gastos com o setor de vestuário e gasolina para outras despesas, e se voltando para o local onde tem ficado bem mais tempo por causa da quarentena: sua casa.
Bentes conta que o setor de móveis e eletrodomésticos, o primeiro a aderir a Black Friday no país, já era o terceiro maior em negociações na data, e deve aumentar sua participação. A entidade estima que sozinho ele movimente R$ 853 milhões este ano.
Em comparação com janeiro e fevereiro de 2020, e feito o ajuste sazonal (isso porque o apelo de cada produto varia de acordo com o período do ano), setembro mostrou que as lojas desses setores faturaram 25% mais.
Materias de construção não ficaram tão atrás, com crescimento de 23,2%, seguido por artigos de uso pessoal e doméstico, com 12,7%.
Em outras palavras, os três segmentos que mais elevaram o faturamento nos últimos meses atendem ao sujeito que quer se sentir cada vez melhor em seu domicílio.
O economista da CNC acredita que a pandemia fez o brasileiro rever algumas de suas regras na hora de comprar. “Existia uma resistência, por exemplo, no momento de comprar alimentos nos supermercados, mas as vendas dispararam nesse período de quarentena.”
A confederação de comércio espera uma disparada nas vendas de super e hipermercados na edição deste ano, com R$ 916 milhões em movimentações. Ficam atrás apenas dos insuperáveis eletroeletrônicos (celulares, notebooks etc), com mais de R$ 1 bilhão esperado nos caixas das empresas.
Receio similar ao de comprar alimentos ainda ocorre com os consumidores com os produtos de vestuário.
“É uma questão cultural. No caso da comida, a pessoa tem medo de ela não ser bem selecionada, e as roupas precisam ser vestidas, experimentadas.”
A projeção da CNC é que o período de promoções deste ano deverá movimentar R$ 3,74 bilhões no total, maior valor desde que a data foi incorporada ao calendário do varejo nacional, em 2010.
Confirmada essa expectativa, o faturamento representará crescimento de 6% (1,8% em termos reais, descontada a inflação) em relação à Black Friday do ano passado.
E-commerce turbinado
Bentes diz que o evento em 2020 não corre risco de naufragar ainda que siga em elevação o número de infectados pela covid. “Fala-se em segunda onda e há governos que ameaçam restringir novamente as atividades. Mas, mesmo se isso ocorrer, o costume na Black Friday é de compras pela internet, uma tradição que neste ano ficará ainda mais fácil.”
Para ele, se for confirmado o sucesso de vendas, boa parte do mérito caberá ao desenvolvimento expressivo das entregas e da logística no país.
“O varejo teve que se adequar na marra ao isolamento social. Chegou um período, entre maio e julho, que quem não estivesse no e-commerce e não oferecesse entrega, estava praticamente fora do mercado. A estrutura de logística foi anabolizada e a musculatura ficou mais desenvolvida por causa disso”, argumenta.
Resultado: de março a setembro, de acordo com números da Receita Federal, as vendas online no Brasil cresceram 45% na média mensal na comparação com os mesmos períodos do ano passado. A quantidade de pedidos no varejo eletrônico mais que dobrou no mesmo período, com avanço de 110% na quantidade de notas fiscais emitidas.
A explicação está na necessidade dos comerciantes, mas também na multiplicação de ofertas de entrega. “Quando há concorrência, a tendência é que o serviço melhore e o preço caia. Foi o que aconteceu”, afirma Fabio Bentes.
Serviços não crescem, mas ajudam
O vice-presidente da CNS (Confederação Nacional de Serviços), Luigi Nese, diz que o setor deve contribuir nessa pandemia dando estrutura para que o comércio supra a provável alta demanda.
“O setor de serviços é procurado nessas horas para fornecimento de mão de obra, em áreas como call center, TI (tecnologia da informação) e delivery. São os departamentos que garantem o funcionamento do todo”, explica Nese.
Ele diz que em a Black Friday tradicionalmente não é um momento tão esperado pelas empresas de serviços, e durante a atual crise sanitária o quadro não vai se alterar.
“Segmentos que estão fechados ou parcialmente abertos, como os restaurantes, por exemplo são obrigados a obedecer limitação de clientes e distanciamento: portanto, não há muito o que se esperar da Black Friday.”
O mesmo ocorre com barbearias ou salões de beleza, que restringem o público e exigem a presença física. “Não são produtos que você pode escolher e comprar pela internet”, diz, destacando o forte apelo do comércio virtual nesse período.
“Costumo dizer que o setor de serviços é o primeiro que sofre numa crise e o último a voltar às atividades. Nós temos retomado numa velocidade melhor do que a gente esperava, e muitas coisas estão se adaptando a uma nova sistemática, com cuidados e regras que antes não seguiam”, comenta o vice-presidente da CNS. “Eu acho que vamos sair melhor dessa crise que outros países”, opina, otimista
Luigi Nese analisa que pós-pandemia o mercado de trabalho vai ser alterado radicalmente. “As entregas em alta devem se manter, as pessoas se adaptaram a esse tipo de serviço e vão continuar, várias delas, no esquema home work.” Ao mesmo tempo, observa, será preciso mais atenção a equipamentos eletrônicos e sobrará um pouco mais de tempo para cuidados pessoais.