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27/02/2021
Marcel Telles, do 3G, compartilha lições para criar um grande negócio no prefácio do livro “Fora da curva 3”
em Carreira
SÃO PAULO – O livro “Fora da curva 3: unicórnios e outras startups de sucesso” (Florian Bartunek, Pierre Moreau e Ariane Adballah; Companhia das Letras) será lançado na próxima quinta-feira (4).
Enquanto os dois primeiros volumes da série trouxeram aprendizados de grandes investidores, o terceiro livro reúne líderes brasileiros à frente de unicórnios e startups que estão inovando em diferentes mercados: Ebanx, Voxus, QuintoAndar, Mastertech, Trinus, Gera Capital, VTEX, Movile/iFood, Stone, Brex, 99 e Wildlife Studios.
Alphonse Voigt, Anderson Ferminiano, André Penha, Camila Achutti, Diego Siqueira, Duda Falcão, Geraldo Thomaz, Fabricio Bloisi, Henrique Dubugras, Paulo Veras, Thiago Piau e Victor Lazarte dão depoimentos sobre suas histórias, sintetizam ensinamentos que tiraram de suas trajetórias e indicam livros para quem busca inspiração e orientação para tirar ideias disruptivas do papel.
O InfoMoney teve acesso antecipado ao livro e divulga abaixo, com exclusividade, o prefácio escrito por Marcel Herrmann Telles. O economista e empresário brasileiro conheceu Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira ao trabalhar no Banco Garantia na década de 70. Os três são cofundadores da 3G Capital. Criada em 2004, a empresa de private equity acumula participações em negócios como AB Inbev (Ambev), Burger King e Kraft Heinz.
No prefácio para o “Fora da curva 3”, Telles fala sobre sua experiência no Garantia e na Ambev e sobre como ele enxerga a geração atual de empreendedores “fora da curva”. O sócio do 3G também compartilhou lições de sua carreira que podem inspirar outros criadores de negócios. Confira:
Empreendedor é um tipo abusado. Alguém que acredita que seu sonho é possível, mesmo quando todos a seu redor dizem o contrário. Esse é um traço comum às pessoas que contam suas histórias neste livro. Lembro-me de quando meus sócios e eu éramos jovens, nos tempos do Garantia, ou quando começamos a comprar empresas. Não nos convencíamos de que não dava para fazer o que vislumbrávamos e, apesar de muitas improbabilidades, seguimos em frente, realizando, mudando as regras do jogo, transformando o Brasil e ganhando o mundo. Hoje, são as novas gerações que me provocam a ver o presente e o futuro sob lentes inusitadas; que me apresentam riscos diferentes daqueles que eu estava habituado a correr; que me encorajam a investir em vários deles com o entusiasmo que conecta os empreendedores em qualquer tempo.
Depois de trazer as lições dos grandes investidores brasileiros, a série Fora da Curva conta nesta edição as histórias daqueles que estão mudando mercados inteiros no país e desbravando o planeta com coragem e obstinação. Costumo dizer que o mérito dos gênios está na capacidade de pensar de maneira simples. Nem simplória nem complexa. Todos os empreendedores reunidos neste livro são assim: geniais. Eles têm facilitado a vida de inúmeras pessoas e companhias ao reinventar setores como o de pagamentos, o imobiliário e o de educação.
Tenho orgulho de que o modelo de gestão que desenvolvemos no Garantia e, depois, na Ambev tenha sido — e continue sendo — referência para muitas lideranças de empresas no Brasil, tanto executivos quanto empreendedores, mas fico feliz que o país tenha evoluído para superar nosso legado. Hoje, temos um ecossistema fértil de novas lideranças e start-ups que, espero, inspirem a nova geração a ter sonhos cada vez mais ousados.
Para a maioria das pessoas, a principal limitação na vida é a própria mentalidade. Porque sempre é possível fazer mais, chegar um pouco mais longe. Por acreditar nisso, sempre aconselhei os jovens a evitar se dar por satisfeitos. Se você acha que “chegou lá”, é porque não contou para si mesmo o que ainda pode conquistar no futuro.
Mesmo que não enxergue exatamente o que há em seu horizonte, tenho certeza de que pode ir muito além. Olhe de onde saiu e até onde foi. Imagine manter uma velocidade exponencial nos próximos dez anos e veja as barreiras se desmancharem. Foi isso que os empreendedores fora da curva fizeram. É isso que eu gostaria de ver outros tantos milhares de brasileiros fazendo. Quem sabe as próximas páginas inspirem e impulsionem mais gente em direção aos próprio sonhos.
Gostaria de compartilhar algumas lições que aprendi na minha trajetória — e que, você verá, fazem parte da vida dos protagonistas deste livro, em diferentes contextos. A primeira delas é que criar um negócio envolve paixão. Empreendedores não param porque trabalho para eles é prazer e diversão. Vivem cada dia com alegria porque sabem exatamente o que e por que estão fazendo. E, quando alguém ama o que faz, nenhum dia é chato. Pode ser difícil, desafiador. Mas chato, jamais. A paixão também é sua fonte de resiliência. Por pior que seja a situação, empreendedores correm atrás. Caem, levantam-se. Quando afundam, transformam o barco em submarino.
Por isso, meu segundo aprendizado é que os empreendedores jamais abrem mão do controle de suas companhias. Porque, para eles, a capacidade de fazer o que desejam é a coisa mais importante do mundo. Empreender é ter liberdade para realizar aquilo em que acreditamos. Isso não significa que um negócio viva só de idealismo. O sonho é o que nos empurra para a frente, mas é preciso ter planejamento, metas e processos para torná-lo realidade.
Para quem quer empreender, gosto da metáfora de que é fundamental estar na água para pegar o peixe. Algumas pessoas têm a tendência de pensar demais antes de agir. Se você tem uma vaga ideia do que quer fazer ou sabe mais ou menos onde quer estar, mergulhe na água. Em pouco tempo, começará a ver os peixes pequenos passando e, de repente, vai passar o peixe grande — que você jamais veria se estivesse fora d’água. Estar no lugar certo na hora certa não é uma condição que depende do acaso, é preciso se mexer.
Por fim, e mais importante, procure gente boa. Pessoas extraordinárias e que tenham a generosidade de formar outras melhores ainda. O ativo mais valioso de uma companhia continua sendo as pessoas. É por isso que os sócios do Garantia e da Ambev sempre se envolveram pessoalmente no recrutamento, conversando com jovens e visitando faculdades. Contratávamos, treinávamos e recompensávamos o esforço e o talento com novas oportunidades — uma prática que continua atual.
Os novos empreendedores devem ver suas companhias como um guarda-chuva para jovens inconformados que talvez não queiram tomar o risco de abrir seu próprio negócio, mas que são criativos e cheios de vontade para fazer diferente (e, assim, fazer a diferença), que preferem fugir da hierarquia e da burocracia das organizações tradicionais. Se você não quer construir uma empresa mediana, precisa de muita gente acima da média para isso. Os novos talentos é que trarão perenidade para o negócio. Vejo muitas companhias declinarem depois que seu fundador se afasta da operação. Mas empreender sem institucionalizar é uma tristeza e um desperdício de potencial, porque as empresas são muito maiores do que seus sócios. Os empreendedores devem fazer o possível para que suas criações sejam capazes de seguir em frente na mão de outras pessoas, tendo a sucessão como um processo natural. Desejo que as próximas páginas despertem em mais e mais brasileiros a coragem para realizar seus sonhos. E que essas start-ups continuem disruptando mercados, concorrentes e, principalmente, disruptando-se.