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17/04/2023Acionistas minoritários se unem e pedem voto múltiplo na assembleia do dia 29
1 de 2 O empresário Silvio Tini, da Bonsucex — Foto: Ana Paula Paiva / Valor
O empresário Silvio Tini, da Bonsucex — Foto: Ana Paula Paiva / Valor
O empresário Silvio Tini, da Bonsucex, se aliou a fundos para pedir processo de voto múltiplo na assembleia da Americanas, que vai eleger novo conselho de administração no dia 29 de abril.
A assembleia foi marcada em um sábado, por teleconferência, o que indignou acionistas minoritários que buscam mais voz nas discussões da crise envolvendo a rede varejista. A Americanas está em recuperação judicial desde janeiro deste ano, quando divulgou um rombo contábil de R$ 20 bilhões.
Tini — que também é acionista minoritário de empresas como Alpargatas e Gerdau, entre outras — enviou para a Americanas um documento para incluir no Boletim de Voto à Distância os nomes do advogado Pierre Moreau, como candidato ao cargo de membro efetivo do conselho de administração, além de Luiz Nelson Porto Araújo, ao cargo efetivo do conselho fiscal; e Célio de Melo Almada Neto candidato ao cargo de membro suplente do conselho fiscal.
Os minoritários da varejista, que tem o trio Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann como acionistas de referência, buscam ter mais voz nos conselhos da companhia, que tem dívidas superiores a R$ 40 bilhões. A intenção é acompanhar as discussões com os credores, cobrar mais pela governança da companhia e ter voz ativa nos futuros desdobramentos de importantes decisões da empresa.
A intenção é acompanhar as discussões com os credores, cobrar mais pela governança da companhia e ter voz ativa nos futuros desdobramentos de importantes decisões da empresa.
No sistema de voto múltiplo, solicitado por Tini, cada ação da direito a tantos votos quantos forem os membros do conselho, e o acionista tem o direito de direcionar esses votos para um só candidato ou distribuí-los entre vários.
Esse sistema foi criado para dar mais chances aos minoritários de ter representantes em conselhos e pode ser requerido quando acionistas detentores de 5% do capital pedem a adoção desse modelo. Por isso é comum a união de fundos e investidores, para se atingir esse percentual mínimo. Já o boletim de voto a distância é uma ferramenta criada há poucos anos e foi pensado com o objetivo de facilitar a participação de mais investidores em assembleias de empresas de capital aberto.
Na assembleia de acionistas marcada para o dia 29 deste mês está na pauta, além da votação do novo conselho de administração e o fiscal, a deliberação sobre a ratificação do novo plano de recuperação judicial da companhia, que foi apresentado em março.
A varejista terá que ajustar seu plano se chegar a um acordo com seus credores, algo que já está sendo costurado. O plano que consta nos autos da recuperação judicial já está defasado e não contempla, por exemplo, a mais recente proposta de capitalização. A companhia já propôs um aumento da capitalização de R$ 10 bilhões para R$ 12 bilhões, sendo que os R$ 2 bilhões adicionais estariam condicionados a algumas premissas, como o atingimento de um nível de alavancagem máximo e um mínimo de liquidez no caixa da empresa.
Na terça-feira desta semana, a varejista anunciou a suspensão de disputas judiciais — uma trégua de 30 dias negociada com alguns bancos credores. O prazo deve ser suficiente para que um acordo que trate de uma solução definitiva para a companhia seja assinado, apurou o Valor. O anúncio de cessar-fogo, assim, foi visto mais como simbólico e um gesto de boa vontade para que se chegue um consenso, três meses após a eclosão da crise na companhia depois de se tornar público um rombo contábil de R$ 20 bilhões.
A visão entre os bancos é de que nem todos os credores estão anda ativos em ações judiciais neste momento e que anunciar a suspensão da disputa no judiciário seria, assim, um “gesto pouco custoso”. Na prática, após negociações bélicas e um anúncio repentino de recuperação judicial, a intenção dos bancos no momento é de ao menos recuperar parte do prejuízo. Isso não quer dizer que mais à frente os bancos não retomem a estratégia de buscar reparos na Justiça.