Portal Fator Brasil: Avanços técnicos das farmácias magistrais são mostradas em Brasília
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21/03/2012Nos primórdios da medicina, não havia grandes laboratórios, com sua tecnologia avançada e suas cápsulas coloridas. A tarefa de fazer os remédios estava nas mãos dos boticários, que manipulavam plantas e outras substâncias disponíveis. “Antes do surgimento da indústria farmacêutica, o que salvava vidas era o medicamento manipulado”, diz a farmacêutica Maria da Penha Henriques do Amaral, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Com o crescimento da indústria farmacêutica no início do século XX, a tarefa de manipular remédio perdeu espaço, mas não desapareceu. Nos últimos anos, vem ganhando força novamente. De acordo com a Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), mais de 60 milhões de receitas são manipuladas anualmente.
Os motivos para o ressurgimento das farmácias magistrais, como também são chamadas, são vários. Um dos principais é o preço. Na maioria dos casos, os manipulados são mais baratos. Geralmente isso acontece porque não é necessário investir em embalagens e rótulos sofisticados, nem em propaganda. Um bom exemplo são os protetores contra queimaduras de pele usados após a radioterapia. “O produto industrializado sai na faixa de R$ 100, e o manipulado com a mesma segurança custa R$ 20”, conta Maria da Penha.
“Outra vantagem do manipulado é que sua composição pode ser ajustada às características individuais dos usuários”, diz Maria do Carmo Garcez, presidente nacional da Anfarmag. Um exemplo é o caso de pacientes que apresentam hipersensibilidade a um tipo de conservante presente no produto industrializado, usado para aumentar o prazo de validade. O médico pode prescrever um manipulado com o mesmo princípio ativo, mas sem o conservante. Nas farmácias magistrais também existe a possibilidade de se aviarem medicamentos que, por serem pouco procurados, deixaram de ser produzidos pela indústria.
Questão de segurança
Na cabeça de quem recebe uma receita para manipular, sempre ficam dúvidas: será que o remédio é tão seguro quanto aquele produzido pelos grandes laboratórios? Será que o princípio ativo foi usado na quantidade certa? É claro que esses problemas podem aparecer, já que é muito mais difícil fiscalizar as cerca de 5 mil farmácias magistrais espalhadas pelo Brasil do que os laboratórios farmacêuticos. Mas existem normas a serem seguidas. O papel de fiscalização cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 2007 foi publicado pelo Diário Oficial as Boas Práticas de Manipulação em Farmácias (BPMF), uma série de requisitos estabelecidos pela agência para que uma farmácia possa manipular formulações magistrais. A norma estabelece critérios que vão desde a compra da matéria-prima até o controle final do produto acabado, incluindo a forma de entrega ao usuário.
É da Anvisa também a responsabilidade de determinar qual princípio ativo pode ou não ser usado. Ainda não existe uma lista de registro de insumos farmacêuticos ativos consistente. A agência está trabalhando para ampliá-la. “Estamos esperando ansiosamente pela lista. Ela sem dúvida contribuirá para o resgate da manipulação de fórmulas magistrais”, diz Marisa Marques, farmacêutica responsável pela farmácia Buenos Ayres, uma das maiores de manipulação do país. Enquanto essa lista não sai, o que serve de base para as farmácias é a Farmacopeia Brasileira, atualizada em dezembro de 2010. “Se o formulário for respeitado pela farmácia, garante-se a eficácia da fórmula”, diz José Luiz Maldonado, assessor técnico do Conselho Federal de Farmácia.
A Anfarmag também é responsável pela fiscalização das farmácias. Por isso, de tempos em tempos, realiza inspeções, geralmente feitas por região.
Manipulação não resolve tudo
Hoje é possível preparar formulação para tratar um sem-número de doenças. Por exemplo, um doente cardíaco, ou que sofre com problemas de pele, pode usar medicamentos manipulados durante todo o tratamento. Mas não é possível manipular todos os remédios. Substâncias ativas que ainda estão protegidas pela lei de patente não podem ser manipuladas. Assim, se o médico optar por um manipulado, nem sempre o paciente terá acesso ao que há de mais avançado. Só que, para algumas doenças, muitas vezes a última descoberta não é a forma de tratamento mais adequada. É o médico quem sabe julgar isso.
Mesmo que o princípio ativo já esteja liberado para manipulação, há outra restrição para a produção de certas drogas. Algumas delas não podem ser manipuladas porque as farmácias magistrais não contam com a tecnologia para controlar a absorção. “É o caso, por exemplo, dos medicamentos que devem ser dissolvidos no intestino e não no estômago, e precisam de um revestimento especial. É preciso levar em conta se o comprimido é de ação imediata, ação prolongada, ação retardada”, explica a farmacêutica Maria da Penha.
É bom lembrar que manipulado é uma droga como outra qualquer, oferece os mesmos benefícios e requer os mesmos cuidados. Portanto, nada de aproveitar a fórmula que funcionou bem para o amigo.
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