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Desde que o ESG (Environmental, Social and Governance) adquiriu maior protagonismo no mundo dos negócios, a construção civil busca se adequar às novas exigências do mercado global quanto à responsabilidade ambiental, social e governança corporativa.
De modo geral, as empresas progrediram bastante nessa temática nos últimos dois anos, elaborando diagnósticos, buscando capacitação e assumindo compromissos públicos ambiciosos.
Alguns desses avanços foram compartilhados em uma roda de benchmarking promovida na Casa CTE, em São Paulo. O evento foi organizado pela Rede Construção Digital, Industrializada e Sustentável (RCDI+S), ecossistema de relacionamento setorial e inovação gerenciado pelo Enredes, unidade de negócio do CTE.
Responsabilidade social e ambiental na construção
Quatro empresas dividiram com um público de aproximadamente 110 pessoas, suas jornadas. Entre elas, a BN Engenharia, certificada em 2022 pelo Sistema B. O selo é designado a companhias que atuam por um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta.
“Esse tipo de reconhecimento não ocorre do dia para a noite”, explicou João Antônio Mattei, CEO da BN Engenharia. No caso da construtora, a certificação veio após uma trajetória iniciada há 17 anos, quando a empresa buscou dar consistência às suas práticas ambientais, sociais e de governança e a obter certificações, como a ISO 14.001 (Sistema de Gestão Ambiental).
“Nunca miramos as certificações em si, mas nas melhorias que elas poderiam agregar, sobretudo por nos provocar a questionar processos, estabelecer indicadores, padronizar ações, além de envolver uma avaliação de terceira parte independente”, disse Mattei. No caso do Selo B, o processo de certificação permitiu à empresa ter um panorama claro sobre o seu estágio de maturidade ESG e elaborar um plano de melhoria.
Outra construtora com uma trajetória ESG ascendente é a HTB. No Brasil há 57 anos, o grupo de origem alemã sempre teve a sustentabilidade entre seus valores, revelou Adriana Machado, Superintendente de Desenvolvimento de Negócios e head de Projetos ESG na HTB.
Nos últimos anos, a HTB voltou atenções para a descarbonização, o que culminou no desenvolvimento de um projeto de edifício comercial com estrutura composta por núcleo de concreto e madeira engenheirada. Amplamente utilizado no hemisfério norte, esse sistema construtivo industrializado se destaca pela sustentabilidade, uma vez que a madeira é uma matéria-prima renovável, capaz de capturar carbono da atmosfera. “Além de uma redução de emissões considerável, a madeira engenheirada tem outras conexões com o ESG ao agregar bem-estar aos usuários e maior segurança nos canteiros”, comentou Machado.
ESG na indústria de materiais
Para dar um salto de sustentabilidade na construção, é necessário buscar novas formas de construir com mais inteligência, produtividade, industrialização e melhor aproveitamento dos recursos.
“Nesse contexto, a transparência sobre como cada produto impacta o ambiente, a saúde e o bem-estar dos usuários é um ativo. Daí a importância da Análise de Ciclo de Vida (ACV) e das Declarações Ambientais de Produtos (EPDs), instrumentos que nos ajudam a levar ao mercado soluções com cada vez melhor desempenho e menos emissões de carbono”, disse Douglas Meirelles, gerente de serviços ao cliente da Saint-Gobain. Para ele, além de buscar práticas sustentáveis, as empresas precisam saber comunicar seus atributos ambientais adequadamente aos stakeholders.
Signatária do Pacto Global e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU, a Saint-Gobain mantém um centro de pesquisa em Capivari, no interior de São Paulo, para a elaboração de ACVs e de EPDs de seus produtos. A empresa também se aproximou de entidades, como o Sinduscon e o GBC Brasil, visando amplificar seu posicionamento como uma empresa de soluções construtivas leves e sustentáveis. A Saint-Gobain tem como meta neutralizar todas as emissões líquidas de carbono de suas operações até 2050.
Quem também está voltada à descarbonização é a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), o que faz todo o sentido, considerando que a produção de alumínio é uma atividade carbono-intensiva. Para se ter uma ideia, a cidade de Alumínio, onde fica a principal unidade industrial da companhia, é a terceira cidade do Estado de São Paulo que mais consome energia, mesmo com apenas 16 mil habitantes.
No caso da CBA, o fato de operar de modo verticalizado, desde a mineração da bauxita até a oferta do produto final, faz com que seja possível buscar melhorias em todos os processos, sobretudo na etapa eletrólise e de refinaria, as mais eletrointensivas.
Para reduzir essa pegada, a principal estratégia utilizada pela companhia é o uso de energia renovável obtida de 23 hidrelétricas e dois parques eólicos. “Com isso, conseguimos operar com uma pegada de carbono quatro vezes menor em comparação aos nossos concorrentes globais”, disse Raquel Montagnoli, gerente de sustentabilidade na CBA, lembrando que a empresa é a única fabricante de alumínio primário do mundo a ter metas aprovadas pelo Science Based Targets Initiative (SBTi) e a constar na A-List do CDP (Carbon Disclosure Project).
No pilar social, a CBA atua com três pilares: dinamismo econômico nas regiões onde possui unidades, apoio à gestão pública desses municípios, e educação, com foco na redução de vulnerabilidades e proteção dos direitos da criança e do adolescente.
“O ESG é uma pauta que vem sendo impulsionada pelas mudanças climáticas, que além dos impactos ambientais, pode gerar efeitos sociais graves, como o aumento da pobreza e da população em situação de vulnerabilidade”, diz Márcia Menezes, diretora da Unidade de Inovação CTE.
Responsável pelo programa do CTE para capacitação de empresas para o atendimento a requisitos do ESG, ela explica que, para evoluir nessa agenda, as empresas devem mapear impactos e identificar as ações que já são desenvolvidas nos âmbitos ambiental e social. Também é necessário dar atenção a toda parte de governança, incluindo ética, compliance e gerenciamento de riscos.
Síntese do encontro
Junto aos participantes do encontro, Bob de Souza, CEO do CTE e mediador da roda de benchmarking, elaborou uma lista de recomendações para as empresas terem mais sucesso em suas jornadas ESG:
- O ESG é um diferencial para as empresas se posicionarem no mercado de fundos imobiliários, agentes financeiros e contratantes.
- O Sistema B é uma referência importante de certificação ESG das empresas do setor da construção.
- As empresas devem realizar análises de ciclo de vida (ACV) de materiais e sistemas construtivos.
- É preciso melhorar a comunicação das práticas ESG pelas empresas da cadeia produtiva da construção.
- As mudanças climáticas são grandes indutoras do movimento ESG.
- A descarbonização é a principal meta a ser buscada, com foco na redução do carbono incorporado e do carbono operacional.
- Industrializar a construção é uma atitude sustentável. A madeira engenheirada, em especial, oferece uma oportunidade para reduzir emissões.
- A energia renovável é uma rota importante de descarbonização, inclusive para a indústria.
- O mesmo ocorre com a reciclagem e a economia circular, chaves para a descarbonização.
- Incorporar à agenda ESG o desenvolvimento de edificações e de cidades mais resilientes.
- Dar atenção aos projetos de responsabilidade social na agenda ESG.
- Mudar o mindset em relação ao desenvolvimento de negócios ESG. O objetivo deve ser amplificar os impactos sociais, ambientais e econômicos positivos.
- Adotar governança, ética, compliance e gestão de riscos como focos prioritários da agenda ESG.
- A diversidade deve ser uma pauta prioritária da agenda ESG.
- O ESG só tem efetividade quando está alinhado à estratégia dos negócios e à cultura das empresas.