O Globo: Quando chega a hora do resgate
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12/12/2012João Sorima Neto – O Globo
SÃO PAULO — No Brasil, a maior parte das pessoas que optou pela previdência privada ainda está em fase de acumulação de capital. É, em sua maioria, gente que começou a contribuir aos 20 ou 30 anos planejando a aposentadoria para 65 ou 70 anos. Mas uma parte dessa turma de quase 12 milhões de contribuintes já chegou ao momento de resgatar os recursos. Nessa “hora da verdade” surgem várias dúvidas, segundo os especialistas. É melhor optar por receber uma renda mensal vitalícia? Ou sacar o dinheiro e aplicá-lo no mercado financeiro em busca de uma rentabilidade maior? E, se essa for a opção, deve-se ir para a renda fixa ou tentar um ganho mais expressivo na Bolsa? Ou ainda: será que chegou a hora de parar de trabalhar?
Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, a melhor alternativa depende do perfil de cada pessoa. Mas o consenso entre os analistas é de que o recurso bem aplicado pode oferecer uma rentabilidade entre 20% e 30% maior do que a renda vitalícia.
— Sem medo de errar, minha avaliação é que sacar os recursos do plano de previdência e aplicá-los no mercado financeiro pode oferecer um ganho entre 20% e 30% maior do que a renda vitalícia — afirma o educador financeiro Mauro Calil.
Um exercício feito pelo vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, simulou com quanto uma pessoa deve contribuir mensalmente na previdência privada para ter uma renda de R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil no futuro. Depois, tomou os valores acumulados e calculou quanto esse montante renderia se fosse aplicado em produtos como fundos de renda fixa, Ibovespa e fundos imobiliários, considerando a rentabilidade média mensal desses produtos nos últimos cinco anos. O retorno mensal obtido em cada um deles é sempre superior aos R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil oferecidos pela renda vitalícia. (Veja a simulação)
— Os números mostram que o retorno é maior do que na renda vitalícia. Mas é preciso lembrar que a renda fixa está ficando menos atrativa, e a tendência é que os fundos imobiliários não repitam o ótimo rendimento de 2% ao mês. E a Bolsa é uma alternativa apenas para o aposentado que tem outra fonte de renda, como aluguel de imóveis e a aposentadoria do INSS. Mesmo assim, só se deve aplicar 50% do capital — afirma Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac.
Alternativas com boa rentabilidade
Mauro Calil indica CDBs de bancos, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Fundos Imobiliários e títulos do Tesouro Direto como opções mais seguras para obter melhor retorno, sem correr risco exagerado.
O educador financeiro Reinaldo Domingos lembra um ponto importante para quem pensa em sacar o dinheiro: como está a saúde do beneficiário e qual grau de informação ele possui sobre o mercado financeiro?
— Se a pessoa está lúcida, goza de boa saúde aos 70, 75 anos e se atualiza sobre o mercado financeiro, tem chance de fazer esse dinheiro render mais. Caso contrário, é melhor optar pela renda vitalícia — diz Domingos.
O superintendente de produtos da Brasilprev, João Batista Mendes Angelo, alerta que a renda vitalícia é a opção que garante que o beneficiário tenha uma renda enquanto viver. Mas cessa quando o beficiário morrer e fica para o banco — a não ser que seja escolhida a renda vitalícia com possibilidade de indicar um beneficiário em caso de morte. A desvantagem é que a parcela recebida é um pouco menor, mas o acumulado não fica para o banco. O beneficiário ainda pode fazer saques em períodos predeterminados, por exemplo, a cada seis meses, por um período de 15 anos. O dinheiro que fica no plano segue rendendo. Nessa modalidade, a pessoa também pode indicar um beneficiário que passa a receber o dinheiro acumulado se o titular faltar.
— Antes de decidir como se aposentar, você deve se perguntar se realmente chegou a hora de parar de trabalhar. Temos visto muita gente que optou pela parada aos 60 anos adiar a idade de aposentadoria — diz Batista.
O gaúcho e descendente de italianos Normélio Ravanello, de 65 anos, é um desses. Ele trabalhou 37 anos numa fábrica de equipamentos agrícolas e aposentou-se aos 60. Sacou o dinheiro que tinha acumulado no plano de previdência privado e investiu em sua própria vinícola. Agora se prepara para, junto com a aposentadoria do INSS, viver do dinheiro da venda das 50 mil garrafas de vinhos que está produzindo todo ano em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ele nem pensou em colocar o dinheiro no mercado financeiro.
— A vinícola era meu sonho desde os 26 anos. Hoje estou realizado — diz Ravanello.
http://extra.globo.com/noticias/economia/quando-chega-hora-do-resgate-6919201.html