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03/01/2013Serviços gratuitos para o internauta obtêm lucro compilando informações pessoais a fim de permitir anúncios publicitários cada vez mais direcionados
Marcelo Gonzatto (marcelo.gonzatto@zerohora.com.br)
Recentemente, o advogado Márcio Cots estava fazendo uma pesquisa na internet por meio de um site de buscas a fim de encontrar um carrinho de bebê. Ao concluir o levantamento, fechou o buscador e voltou a utilizar o computador para trabalhar.
As páginas seguintes, porém, começaram a lhe apresentar sucessivos anúncios de carrinhos de bebê. Este é apenas um exemplo de como dados pessoais e o comportamento online de usuários são utilizados de maneira muitas vezes despercebida e levantam um debate sobre os limites da privacidade no mundo virtual.
— O anúncio, por si só, não vejo como invasivo. Mas pode incomodar saber que alguém monitora o que você está acessando — avalia Cots, advogado paulista especializado em Direito Digital.
O modo como informações e conteúdos digitais lançados à rede por internautas são utilizados ganhou destaque nas últimas semanas, quando o aplicativo de fotos Instagram anunciou uma alteração em sua política percebida como uma brecha para a venda das imagens postadas pelos usuários. A diretoria recuou e garantiu que não pretende negociar o material. Mas o fato é que dados fornecidos consciente ou inadvertidamente já são utilizados pelas empresas da internet para erguer um mercado bilionário.
— Os dados pessoais dos usuários são, hoje, a principal fonte de receita na internet. Grande parte dos serviços, como Google e Facebook, depende da coleta e do processamento de dados dos usuários. O que ocorre é que nem sempre se sabe como são coletados e utilizados — revela o diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ronaldo Lemos, um dos principais especialistas do país na área.
Em resumo, serviços gratuitos para o internauta obtêm lucro compilando informações pessoais a fim de permitir anúncios publicitários cada vez mais direcionados. Essas informações incluem dados fornecidos intencionalmente pelo internauta ao se cadastrar no serviço ou de maneira involuntária ao fazer buscas e visitar sites. Com base nisso, o Google chega a criar estimativas de sexo, idade, localização geográfica e interesses de cada um — até se o usuário de um determinado computador costuma ter mais atração por notícias de meteorologia ou esportes, por exemplo. Para consultar parte do que o Google sabe sobre você, acesse google.com/ads/preferences.
Os limites desse tipo de prática estão descritos nos termos de uso e privacidade, com os quais todos precisam concordar para utilizar as ferramentas digitais. O problema é que esses termos costumam ser pouco claros — e pouco lidos. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor mostra que 84% dos brasileiros não leem essas condições.
Em geral, as maiores empresas da internet se comprometem a não relacionar as informações do internauta à sua identidade, tratando-as de forma anônima. Mesmo assim, especialistas sustentam que não há como garantir que essa vinculação não seja feita por falhas de segurança ou intencionalmente. Além disso, a informação costuma circular entre diferentes companhias.
— Se uma empresa faz uma aplicativo para o Facebook, por exemplo, passa a ter acesso a dados do usuário. Além disso, há empresas especializadas em vender informações sobre o perfil dos internautas, ainda que de forma anônima — sustenta Lemos.
Outra ameaça à privacidade é o que o próprio internauta divulga. Especialista em segurança da informação, Leonardo Lemes Fagundes costuma ter extremo cuidado com o que torna público na internet, inclusive nas redes sociais. Ele lembra que, mesmo quando alguém tem um perfil restrito a amigos, comentários ou imagens podem ser replicados por eles e se disseminar pela rede. Outro detalhe muitas vezes desconhecido é que esse conteúdo pode permanecer armazenado indefinidamente.
— No caso do Facebook, todos os dados fornecidos ficam armazenados, desde o perfil do usuário e suas postagens, fotos, como todas as conversas realizadas utilizando o serviço de chat da rede social, mesmo após a exclusão da conta do usuário — alerta.