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10/08/2013Os empréstimos intercompanhias de subsidiárias externas para suas matrizes no Brasil praticamente dobraram de tamanho no primeiro semestre: passaram de US$ 9,5 bilhões de janeiro a junho do ano passado para US$ 17 bilhões neste ano, segundo dados do Banco Central (BC). O montante não só é o maior da história para um primeiro semestre, como também é maior que qualquer outro ano completo – em 2012 inteiro, por exemplo, as empresas brasileiras trouxeram US$ 14 bilhões ao país por esse tipo de transferência.
Os empréstimos intercompanhias servem como alternativa de capitalização para a companhia que é internacionalizada e são uma forma de aumentar a liquidez do caixa no país, além de significarem para a economia uma entrada maior de dólares, o que ajuda a manter as contas externas no azul e a dosar a cotação nacional da moeda. Essa liquidez pode ser usada pela companhia para fazer investimentos e ampliar os negócios, mas não há nenhuma garantia ou controle disso, e o dinheiro pode simplesmente ser usado para cobrir dívidas ou para aplicações no mercado financeiro.
“A filial emprestar para a matriz não é o comum, geralmente é o contrário”, diz Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). “A filial empresta quando a matriz está em dificuldade, como aconteceu em 2008 e 2009, quando muitas matrizes nos EUA e Europa estavam em situação muito pior do que suas filiais. Mas não é o caso atual do Brasil.”
Uma conjunção de fatores coincidentes nos últimos meses ajuda a explicar a guinada na direção desse fluxo financeiro. Em abril, a taxa básica de juros, a Selic, saiu da mínima histórica para entrar em trajetória de aumento. Em maio, o câmbio deu um salto de depreciação acompanhando mudanças na economia americana. E tudo no momento em que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cobrado de captações no exterior desde de 2011, era praticamente anulado. A cobrança, de 6% sobre empréstimos com prazo de até cinco anos, foi limitada a empréstimos de até dois anos em junho de 2012, e depois, em dezembro, para apenas um ano, regra que segue até hoje. Empréstimos com prazos maiores são isentos. Cada um desses fatores é um estímulo para trazer dinheiro de fora, e juntos, são estímulo ainda maior.
“O dólar está se recuperando frente ao real, e isso torna o momento interessante para trazer recurso de fora”, aponta Sherban Leonardo Cretoiu, professor e coordenador do Núcleo de Negócios Internacionais da Fundação Dom Cabral. “São menos dólares que saem da filial lá fora para virarem mais reais agora, ao chegarem aqui.” Ou seja, uma empresa que, em abril, quando o câmbio estava a R$ 2, pegasse fora um empréstimo de US$ 500 mil por exemplo, teria aqui R$ 1 milhão. Em junho, com o dólar já na faixa de R$ 2,20, os mesmos US$ 500 mil renderiam R$ 1,1 milhão, R$ 100 mil a mais.
Em maio e junho, quando o câmbio deu um salto de 20%, empréstimos intercompanhia também dispararam: dos US$ 17 bilhões levantados em todo o semestre, US$ 12 bilhões foram apenas nesses dois meses, considerados apenas os envios de filiais fora para matriz aqui no Brasil. Como o BC não detalha os dados, é impossível saber quais são as empresas ou setores que estão fazendo isso, mas a lista de multinacionais de origem brasileira cresceu e se diversificou bastante nos últimos anos -desde as grandes líderes, como Petrobras, Vale, WEG, Marcopolo, até pequenas e médias que começam a se internacionalizar, como acontece no setor de tecnologia.
A via oposta – empréstimos de multinacionais estrangeiras para filiais no Brasil – também teve um avanço enorme. As estrangeiras colocaram US$ 15 bilhões nos caixas de suas subsidiárias no Brasil via empréstimo no primeiro semestre, o dobro do que em igual período de 2012.
“Os juros hoje no mundo, em média, estão muito baixos”, disse Charles Holland, diretor-executivo de governança corporativa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Nos Estados Unidos, por exemplo, você capta recurso pagando juro de 1% ao ano, para uma inflação de 2% a 3%. Quer dizer, o juro chega a ser negativo.”
O pesquisador e professor da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda lembra que no país as empresas têm dificuldade de fazer financiamentos com os bancos comerciais. “Tirando os bancos públicos, que possuem linhas diferenciadas, as linhas de mercado são ainda muito mais caras que no exterior”, diz. Isso, diz, estimula, a quem pode, pegar o dinheiro que precisa fora em vez de fazer isso aqui dentro. “Essa é uma das vantagens da empresa globalizada. Ela conta com uma diversificação de fontes muito maior”, afirma Lacerda.
Alguns economistas destacam que é possível que parte considerável desse salto recente nos empréstimos venha de uma única operação. Em maio, a Petrobras anunciou a captação de US$ 11 bilhões no exterior, destinado principalmente a ajudar financiar seu plano de investir de R$ 237 bilhões em cinco anos. Foi o nono maior volume já captado por uma companhia de uma só vez na história.
Parte disso pode estar embutido no salto que a entrada de empréstimos no país teve em maio e junho, mas não invalida a mudança da tendência. “A liquidez disponível nos mercados desenvolvidos está hoje muito maior do que nos emergentes. No mercado americano, então, esse volume é extraordinário”, diz Alan Riddell, sócio responsável pela assessoria a captação de recursos da KPMG no Brasil.
Aos poucos, os EUA começam a mostrar melhora nos números de sua economia e dar sinais de que poderão, em breve, reduzir seus programas de incentivos e voltar a subir os juros, o que reconfiguraria o mercado internacional. Ao mesmo tempo, não só o Brasil, mas os países emergentes como um todo perdem fôlego e o consenso é que, depois de uma década de bonança, os investimentos e capitais que transbordaram nessas economias voltem para os países de origem, especialmente os EUA.
“É como uma gangorra, em que os emergentes estavam lá em cima, afirma Riddell. “Agora, perdem gás e essa gangorra está se invertendo. Para o mundo financeiro, isso significa que o dinheiro está menos interessado em ir para os emergentes e o fluxo está sendo redirecionado para os mercados desenvolvidos. As multinacionais com ativos nesses países, têm a facilidade de fazer essa captação local e decidem usam esse dinheiro lá ou colocam em outro lugar do conglomerado, seja matriz, seja filial.”
http://www.valor.com.br/brasil/3224670/dobra-emprestimo-de-filial-para-multi-brasileira