Análise Direta: “Qual é o futuro econômico do Brasil? – Dr. Pierre Moreau”
03/10/2016Artigo: Música, do estímulo ao combate à violência contra mulher
14/10/2016
Movimento do Ministério Público Democrático (MPD)
Concurso musical estimula adolescentes a discutirem violência contra mulher
14/10/2016
Alunos da rede estadual de ensino da capital paulista são o público de iniciativa que visa abordar a prevenção e o combate à violência de gênero, bem como o respeito aos direitos da mulher. Os estudantes poderão compor músicas sobre o tema, individualmente ou em grupo de até cinco pessoas, e apresentarem ao concurso musical Vozes Pela Igualdade de Gênero 2016. O projeto é o resultado da ação de integrantes do Movimento do Ministério Público Democrático (MPD), à frente do Grupo de Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID) e do Núcleo de Gênero do MP-SP, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE). A ação visa ampliar o debate em torno do assunto, visto os dez anos da Lei Maria da Penha completados em 07 de agosto, e discutir com educadores o mapeamento das políticas públicas para mulheres vítimas da violência. A canção vencedora será gravada por Rick Bonadio, produtor musical detentor de cinco Grammy Latino e jurado do X-Factor.
O concurso envolve estudantes das 13 Diretorias de Ensino da cidade de São Paulo para criar uma composição que valorize o respeito à mulher, conscientizando jovens e adultos de forma lúdica – acesse aqui ao regulamento do projeto. Os organizadores explicam que a proposta se enquadra nas diretrizes da Lei Maria da Penha, em vigência desde 2006 para assegurar às brasileiras o direito de viver livre da violência de gênero. A lei, considerada a terceira mais importante no mundo no assunto, propõe a disseminação de valores éticos, perante a sociedade, de irrestrito respeito à dignidade ao ser humano com a perspectiva de gênero e etnia. Ainda preconiza a valorização de atividades ações educativas para que as brasileiras vivam libertas de questionamentos, condicionantes e não integrem as estatísticas da violência contra a mulher. A taxa de óbito feminino no brasil é de 2,6 mulheres para cada 100 mil habitantes de acordo com o Mapa da Violência 2015, mulheres negras são as maiores vítimas com aumento de 54% de homicídios numa década.
Os estudantes deverão compor uma música que valorize o respeito à mulher e que essas vozes cantem práticas éticas, sejam experimentadas e refletidas no comportamento de cada brasileiro e brasileira. É uma forma de protagonismo destes adolescentes na construção de uma sociedade na qual se abre espaço de compreensão sobre as relações de gênero, avaliam os coordenadores do projeto. Por fim, que se amplie o alcance dos direitos e não se aceite qualquer forma de violência contra a mulher. A iniciativa vem na contramão de fatos que acabaram por inspirar a realização do Vozes pela Igualdade de Gênero. A recorrente utilização da música para mobilizar a discriminação, incitar o preconceito e acionar a ignição da violência em composições que influenciam, invisibilizam e perpetuam aquilo conhecido como “cultura do estupro”, argumentam.
A prova está na quantidade de vezes nas quais se ouvem composições que acabam por alavancar dúvidas e questionamentos sobre os verdadeiros sentidos e significados atribuídos às relações de gênero nas letras. Segundo dizem, os exemplos, que supostamente falam de amor, naturalizam-se na cultura social as respostas mais negativas que expressam submissão das mulheres, o desejo de vingança e as violências física, moral e sexual. Um longo repertório de músicas inferioriza, desqualifica e oprime mulheres, colocando-as costumeiramente no mesmo patamar significante de objeto sexual, afirmam. Canções misóginas são tocadas repetidamente por vários anos e demonstram que os impactos da circulação desses valores podem ser ainda mais agressivos.
O concurso com os adolescentes se insere neste cenário e visa transformar a música como instrumento eficaz de conscientização social sobre o problema. Os coordenadores percebem a música como estímulo para a reflexão sobre a violência contra a mulher na intenção de prevenir a ocorrência de novos casos. A linguagem musical traduz sentimentos, atitudes e valores culturais, sendo possível ser utilizada como recurso de sensibilização para desenvolver novas percepções além de influenciar no processo de aprendizagem. Integram a organização do concurso a diretora do MPD, Fabíola Sucasas, as também promotoras de Justiça Silvia Chakian e Valéria Scarance, o educador Thiago Sabatine, a jornalista Marília Taufic e o produtor musical Rick Bonadio.
Violência contra mulher na música brasileira
“Todo homem que sabe o que quer pega o pau pra bater na mulher” proclama a música ”Silvia”, da banda Camisa de Vênus. Uma visão lastimável da realidade enquanto milhares de Silvias são impostas a uma submissão legitimada por tantas outras vozes entoadas nos cinco cantos do país, argumentam os coordenadores da iniciativa. Na contramão, indicam, surgem movimentos que respondem NÃO a este tipo de letra. O funk “Tapinha não dói” foi reconhecido pela Tribunal Regional Federal, em 2015, como canção que estimula a violência contra a mulher e a sentença condenou a produtora a pagar indenização de R$ 500 mil ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos Difusos da Mulher. Em resposta a “Baile de Favela”, de MC João, considerada pelos organizadores uma verdadeira ode ao estupro, a cantora Mariana Nolasco publicou vídeo, tendo alcançado mais de 9 milhões e 500 mil visualizações no YouTube.
A adolescente rebate a letra da original ao dizer que “Pode ir quente ou fervendo; Mas respeita o seu par porque um dia a chapa que você ferveu pode ser a mãe dos filhos do destino que escolheu. Vocês sabem a situação que vão encontrar? Então pensa no menor e onde isso vai levar. Vamos pensar! Será que vai ajudar? Será que essa letra vai mostrar o valor a dar?” Já “Baile de favela” tem mais de 140 milhões de visualizações, sendo ouvida e cantada repetidamente por jovens, especialmente em festas regadas a álcool, drogas e sexo. Os realizadores do concurso afirmam que, ao menos, há algo a se destacar com uma nova sensibilidade sobre as relações de gênero, a recepção dessas músicas têm sido cada vez mais motivo de estranhamento e problematização.
Vozes Pela Igualdade de Gênero 2016
– Poderão participar alunos regularmente matriculados e frequentes no Ensino Médio de curso regular ou da modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos, mediante adesão da escola e formação de grupos de alunos;
– A inscrição poderá ser individual ou em grupo, caso em que será formado por até 5 (cinco) alunos/as;
– Haverá 1 (um) professor/a orientador/a indicado/a pelos alunos;
– Em caso de participação em grupo, é obrigatória a participação de uma integrante do gênero feminino.
– Serão três fases do Concurso: Avaliação interna por comissão multidisciplinar de cada escola e envio de uma música à Diretoria de Ensino até 8/11/2016; Envio pela Diretoria de três canções selecionadas para a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo até 21/11/2016; Seleção das três finalistas por comissão formada pelo MPSP, SEE e profissional de música em 24/11/2016 e; premiação em 05/12/2016, na sede do MPSP (rua Riachuelo, nº 115).
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