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01/03/2019
Como controlar o impulso de comprar tudo que é divulgado pelos influenciadores nas redes sociais
O Globo
Influenciadora Jade Seba diz que se preocupa com as consequências de seus posts. Psiquiatra dá cinco dicas para questionar a necessidade de adquirir novos itens vistos nas redes sociais
Bia Rohen e Giulia Costa*
25/01/2019
Já comprou algo só porque viu alguém na internet usando? Esse é o espaço que os influenciadores digitais ocupam na vida de muitas pessoas. Uma recente pesquisa do Instituto Qualibest revela que eles são a segunda fonte de informações para a tomada de decisão na compra de um produto, citada por 49% dos entrevistados. De acordo com o estudo, 55% das pessoas costuma pesquisar a opinião de influenciadores antes de fazer uma compra importante e 86% já descobriu um produto por meio de um digital influencer.
A Oneomania é o impulso de comprar coisas sem precisar. É uma doença séria e que necessita da ajuda de um profissional. O psiquiatra Cirilo Tissot, diretor técnico da clínica Greenwood, atende pacientes viciados em compras e conta que a base do método utilizado no tratamento é a mesma usada para dependência química e distúrbios alimentares. Isso acontece porque os três problemas têm uma origem em comum: a compulsão. Neste cenário, os influenciadores digitais podem agravar a situação, despertando obsessão e recaídas.
— Ser influenciado se torna prejudicial quando a internet começa a substituir o espaço de amigos e familiares que colocariam limites em você — diz o especialista.
Para Cirilo, a propaganda nesse novo modelo de comunicação funciona como a convencional que chega pela TV, mas, nesse caso, o consumidor é quem procura por ela. Assim, acompanhar essas pessoas da internet é uma maneira de buscar a própria identidade e diminuir a responsabilidade solitária da aquisição de um produto:
— A rede social é uma novidade na vida de todos nós. Estamos lidando com algo muito real; são pessoas comuns que usam os produtos. Enquanto não definimos nossas preferências, tendemos a imitar alguém, como um ponto de partida para depois nos diferenciarmos. Além disso, buscamos opiniões dessas pessoas na tentativa de amenizar a angústia na tomada de decisão, como quem pede opinião a um amigo na hora de comprar um carro para que a escolha não seja solitária e cheia de riscos. Isso é intuitivo e não temos ideia de quão frágil pode ser nossa escolha — comenta o psiquiatra.
A blogueira Jade Seba tem 2,3 milhões de seguidores no Instagram e, mesmo sugerindo seu estilo de vida para tantas pessoas, também se sente influenciada por outros produtores de conteúdo:
— Adoro saber as novidades, e a internet veio para somar. Por meio das redes sociais, podemos acompanhar perfis que nos atraem por serem parecidos conosco. Dessa forma, quando vemos algo novo ou que realmente estávamos à procura, somos motivados a comprar — revela.
Assim como o médico Cirilo Tissot, Jade também acredita que o poder de persuasão está na confiança que é transmitida ao público:
— Acredito que aquela influenciadora que realmente mostra o que usa, que faz parte da realidade dela no momento, convence, pois nos identificamos e nos vemos consumindo também aquele produto. Porém, quem posta tudo que vê pela frente, como itens que não condizem com seu estilo de vida, acaba não convencendo e não exerce influência. Se torna uma modelo ou divulgadora — expõe.
Jade, que é parceira de marcas como a joalheria dinamarquesa Pandora, sabe que tem influência sobre seu público, mas conta que se importa com o possível consumismo desenfreado que pode despertar nos seus seguidores:
— Sempre me preocupo com tudo, desde passar a veracidade do que estou usando até a parte de gerar compulsão por compras. Assim, mantenho a minha realidade. Falo para as pessoas que me assistem que, se realmente precisam de determinado produto, vale a pena. No entanto, acredito que não tenha falado diretamente sobre reduzir o consumo em redes sociais — comenta.
Baseado na nova forma de fazer propaganda que as redes sociais oferecem, Tissot dá cinco dicas para controlar o impulso de comprar tudo o que é divulgado pelos produtores de conteúdo para internet:
1) Exercite o olhar crítico
Entenda o espaço que as redes têm na sua vida e saiba avaliar os conteúdos da timeline. É importante lembrar que o trabalho de alguns influenciadores é testar e divulgar produtos, e muitos itens são dados pelas próprias marcas.
2) Analise sua atual situação financeira
Se não pode gastar com um item no momento em que se interessou por ele, é melhor esperar. Às vezes, pode haver a sensação de que um produto vai se esgotar nas lojas logo após ser citado por um influenciador. Mas lembre-se: a menos que o produto seja edição limitada, você poderá comprá-lo quando tiver condições financeiras. Assim, não vai se enrolar em contas.
3) Certifique-se de que ainda não tem
Um upgrade na versão do seu smartphone pode apresentar mínimas diferenças se comparado ao produto anterior, como uma câmera um pouco melhor ou uma bateria que dura cerca de uma hora a mais. Enquanto seu aparelho estiver funcionando perfeitamente, não há motivo para comprar outro. Para itens menores e nem tão presentes no dia a dia, manter os ambientes organizados ajuda a saber qual roupa ou utensílio está faltando.
4) Conheça seu espaço
Mais uma vez, a organização pode ser um fator determinante na tomada de decisão. Se a prateleira de livros está desarrumada, não tem porque tentar encaixar mais exemplares ali. Separe o que já leu e o que ainda está faltando. Com o passar do tempo, os interesses mudam e alguns itens podem não ser mais úteis. Doe aquilo que não lhe serve mais e abra espaço para os itens que estão por vir. O mesmo vale para outros segmentos. Dessa forma, você consegue ter uma ideia melhor do que já tem e dos produtos que ainda não foram aproveitados.
5) Pergunte-se: realmente preciso disso?
Acumular pode ser sinônimo de desperdício de tempo, dinheiro e espaço. Por exemplo, por que colecionar tantas panelas antiaderentes vistas em receitas fit se seu fogão tem apenas quatro ou seis bocas? Elas vão tomar conta do seu armário de cozinha e do seu orçamento, sem que você faça bom uso do que comprou.
*Estagiárias sob supervisão de Renata Izaal
Clique aqui e leia o original no O Globo