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13/08/2021Uol | Seus dados bancários já podem ser compartilhados se você autorizar; entenda
13/08/2021Começa 2ª fase do open banking; tire suas dúvidas
Aos poucos, opção de compartilhar dados de conta corrente, cartão de crédito e operações de crédito será oferecida pelas instituições
Por Fernanda Bompan, Valor — São Paulo
13/08/2021 10h01 Atualizado há 2 dias
A segunda fase do open banking – sistema que permite o compartilhamento de dados financeiros a terceiros – começa hoje e é quando os brasileiros devem começar a entender o que essa história de “open”, que os bancos falam tanto, afeta em sua rotina.
Essa segunda etapa será feita de forma escalonada, ao longo de oito semanas. Hoje, algumas pessoas, tanto física quanto jurídicas, podem receber mensagens de seus bancos perguntando se desejam compartilhar seus dados cadastrais com outras instituições financeiras.
Aos poucos, a opção de compartilhar dados de conta corrente, cartão de crédito e operações de crédito será oferecida pelas instituições. O consentimento é voluntário.
1 de 2 openbankingArte — Foto: arte/valor
O que de novo este tal de “open banking” traz é que o dono dos dados financeiros é o próprio cliente, não mais os bancos. Para exemplificar, hoje, quando uma pessoa quer abrir uma segunda conta corrente no banco Y, ela precisa ou enviar vários documentos para essa instituição de forma online ou ir pessoalmente à agência. E, mesmo assim, nada era garantido que a abertura ocorreria.
Com o open banking em uma jornada toda feita online, se essa pessoa já tiver conta no banco X, ela autoriza que esse banco, compartilhar os dados necessários especificamente para abertura de conta ao banco Y. A aprovação tende a ser mais rápida e mais segura, já que a instituição Y terá informações precisas sobre aquele futuro cliente.
Abaixo um passo a passo de um exemplo da jornada do cliente na abertura de conta corrente:
Passo 1: Cliente acessa aplicativo da instituição Y onde deseja receber os dados
Passo 2: No app, terá um campo específico para fazer o consentimento
Passo 3: Será solicitada uma identificação mínima, como o CPF, para qual finalidade, qual instituição e o prazo que deseja que esse processo seja feito. Clicando sim, será redirecionado ao app banco X em que já tem conta.
Passo 4: O cliente vai se autenticar da mesma forma que sempre fez
Passo 5: Ao entrar no aplicativo, haverá uma mensagem pedindo o consentimento para compartilhar os dados necessários para a operação ao banco Y
Passo 6: Aparecerá um resumo do combinado com o banco Y. Se estiver tudo certo, confirme. Se não, cancele a operação.
Passo7: banco Y recebe os dados e inicia o processo para abertura de conta
É importante saber que esse compartilhamento sempre deve ser feito com autorização prévia da pessoa (não da instituição), com dados específicos ao serviço requerido pelo cliente, e que é possível escolher um prazo para que esse acesso ocorra. A qualquer momento, o consentimento pode ser retirado.
As empresas, em especial as fintechs, estão otimistas, principalmente, com a possibilidade de poderem oferecer melhores ofertas de crédito dentro desse ambiente. E melhores condições para ambos os lados.
Com mais instituições podendo ter acesso a um potencial cliente e com várias informações confiáveis sobre essa pessoa, a concorrência aumenta e o reflexo disso tende a ser diminuição de taxas cobradas ao tomador.
Para a empresa, isso reflete em mais clientes. Tanto que a fintech Cora, uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), é das poucas fintechs que têm interesse em aderir à segunda fase desde o início. Na visão do Igor Senra, CEO da startup, quanto antes entrar, maior a curva de aprendizado. “Temos mecanismos hoje para conseguir obter informações dos nossos futuros clientes [para liberação de crédito], mas isso demora. O open banking muda isso. Além de termos mais informações, elas serão de boa qualidade”, disse.
Mas o mercado também espera propostas de investimentos, seguros e de outros serviços de forma mais personalizada, e que tragam melhores condições ao cliente.
“Nesta fase poderão surgir aplicativos que fazem gestão financeira, simulações de crédito, investimentos, empréstimos em diversas instituições, com base na movimentação financeira do consumidor e em outras informações que poderão ser agregadas”, aponta a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em nota
Toda essa experiência pode parecer uma ameaça à privacidade, mas os participantes garantem que tudo estará protegido. Não há dúvidas entre todos que atuam no mercado financeiro, porém, que convencer dessa segurança será o maior desafio para os participantes.
Estudo da Tecban e da Ipsos recentemente divulgado dá sinais disso. O levantamento mostrou que diminuiu o número de brasileiros preocupados com o compartilhamento dos seus dados dentro da plataforma de open banking. Mas ainda é um fator de preocupação para 46% entre 1.000 entrevistados. E o crescente noticiário negativo sobre os golpes praticados por intermédio do PIX também não tem ajudado muito.
Em termos legais, o advogado Alexandre Ricco, sócio do Menezes & Ricco Advogados, esclarece que o open banking é confiável ao contemplar apenas as instituições autorizadas pelo Banco Central (BC) e abranger vários diplomas legais, tais como o Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Já o responsável área de setor bancário e securitário de Franco Advogados em São Paulo, Daniel Alvarenga, lembra que as normas da LGPD valem apenas para pessoa física e não para pessoa jurídica e, portanto, é importante que os participantes invistam continuamente no incremento da comunicação, na simetria de informação, na avaliação e divulgação de resultados gerados com o compartilhamento de dados no sistema financeiro aberto.
A Febraban também esclarece que todas as operações do open banking ocorrem em um ambiente com diversas camadas de segurança, seguindo padrões consolidados no sistema bancário.
Além disso, a instituição ressalta que o setor financeiro é regulado e fiscalizado pelo Banco Central, e está empenhado em adotar medidas para garantir a privacidade e a segurança de dados pessoais, e ainda conta com os controles necessários para tratamento de dados que envolvem sigilo bancário. Os bancos investem anualmente cerca de R$ 25 bilhões em tecnologia, sendo que deste total, 10% são voltados para a cibersegurança.
O professor de finanças da FGV EAESP, Rafael Schiozer, entende que as empresas, inclusive as não financeiras, já assimilaram bem quais sãos os benefícios que o open banking irá trazer , mas o consentimento da população é fundamental para que o sistema traga resultados. “Eu vejo o open banking com ótimos olhos. Vai melhorar a competição. Mas o quanto vai melhorar, o quão rápido será isso, é uma incógnita ainda”, analisa.
Algumas instituições já fizeram um tipo de pré-cadastramento com seus clientes para saber se há interesse em aderir. É o caso do Banco Original, que até ontem (dia 12/08), tinha recebido resposta de 22 mil clientes, o que para a instituição é um indicativo positivo. A instituição espera que 1 milhão dos 5 milhões de clientes aceite compartilhar seus dados.