Congresso deve decidir sobre doação eleitoral por empresas, diz Barroso
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20/05/2016
PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
Veiculado no DCI
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Barroso critica judicialização excessiva da política nacional
Em palestra na capital paulista, sobre reforma eleitoral, ministro do STF defendeu que decisões políticas devem ser tomadas apenas pelo Congresso
São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, considera que a judicialização da política brasileira não é positiva. Em sua concepção, o Judiciário não deve intervir em casos exclusivamente políticos, deixando o poder de escolha restrito apenas ao parlamento.
Barroso palestrou ontem (16), em evento promovido pelo Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), em São Paulo.
“A judicialização é um momento patológico. Acho até, que em alguns momentos é possível servir bem ao País através da judicialização. Ninguém deve achar que o sistema seja uma forma normal de resolver problemas políticos, de definição de políticas públicas porque não é”, comentou o ministro.
Para ele, ainda que o Judiciário ajude nas questões nacionais, sua existência serve para resolver “impasses” administrativos e políticos.
“Ninguém deve achar que a briga judicial seja um mecanismo natural de resolução de conflitos. Ainda quando a judicialização possa aqui e ali servir bem ao País, ninguém deve imaginar um modelo de juízes. Não temos essa capacidade institucional e temo que seria uma tragédia”, afirmou o jurista.
“Precisamos mesmo é da política e de requalificar a política para fazê-la a melhor possível”, emendou.
Sua observação segue a linha de que em uma democracia a “decisão política deve ser tomada por quem tem voto”, não por juízes.
“O Supremo só deve interferir em decisões políticas que tenham sido tomadas quando são claramente contrarias à Constituição, ou afetarem às regras do jogo democrático, ou direitos fundamentais”, rebateu Barroso.
O STF deve intervir, também, prossegue, quando houver “omissão constitucional” por parte do mundo político, ou quando pautas de interesse nacional, como a liberação da união homoafetiva, por exemplo, prossigam sem uma resposta do parlamento.
“Se o Congresso atuar, o Judiciário deve respeitar as escolhas políticas. O problema é que há muitas demandas sociais em que o Congresso não atua. Aí você tem a judicialização”, pontuou.
Reforma política
A palestra do ministro tratou da reforma política, onde ele avaliou que a política brasileira hoje “reprime o que tem de bom e potencializa o que tem de ruim”. Disse, também, que uma reforma precisa ser feita com três objetivos principais: aumentar a legitimidade do sistema político; baratear o custo das eleições; e diminuir o número de partidos.
“A reforma política engloba mudança de modelo de governo, eleitoral e partidário”, ressaltou.
Para ele, o melhor modelo de sistema político no Brasil seria o “semipresidencialismo”, ou presidencialismo atenuado, tal qual o esquema que vigora na França e em Portugal. Barroso explica que nesta dinâmica o presidente seria eleito e preservaria competências, como nomear comandantes militares, ministros, embaixadores, apresentar projetos de lei e nomear o primeiro-ministro. Este, no entanto, precisaria ter aprovação do Congresso e conduziria o “varejo da política”, cuidando da relação com o Legislativo.
Questionado sobre a forma de financiamento, o jurista defendeu um sistema misto de financiamento, com um teto para doações empresariais – apenas de pessoa física – e uma espécie de freio que impeça uma empresa de financiar diversas campanhas. Ele defende que essas empresas fiquem impossibilitadas de fazer contratos com o governo depois das eleições e não possam pegar empréstimos com bancos públicos.
“Eu votei a favor da inconstitucionalidade porque a lei não previa nenhum tipo de limite às doações, mas a questão em si de se empresas devem poder doar ou não é política e deve ser decidida pelo Congresso”, relembrou Barroso sobre o caso onde o STF baniu a doação empresarial.
Além disso, o ministro argumenta que, nas eleições para o parlamento, a melhor opção é o voto distrital misto no qual metade dos deputados é escolhida por eleições majoritárias em cada distrito e outra metade é escolhida pelo voto em partidos. Para ele, a mudança diminuiria o “descolamento” entre representantes e representados, que escolheriam alguém de seu distrito.
Diego Felix
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