Com Selic baixa, poupança rende mais que fundos de investimento
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31/01/2012Se os juros caírem mais, o que já foi prometido pelo Banco Central, a concorrência entre os investimentos financeiros no Brasil vai ficar desleal, com vantagem para a poupança.
Pelos rumores que correm em Brasília, o governo estuda uma mudança nas regras de remuneração da caderneta de poupança para evitar um desequilíbrio financeiro nos mercados. Esta não é uma batalha nova, mas nunca foi enfrentada para valer por nenhum governo há décadas.
“É fato que, em algum momento, vai ter que se mexer nisso. Senão, os juros nunca vão pode cair abaixo de 6%, que é a taxa garantida pelo governo para a poupança. Mesmo que seja possível que os juros cheguem a isso”, diz Miguel Ribeiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) .
A lei que determina a remuneração da poupança é resquício do período de inflação descontrolada. O governo deu um jeito de garantir aos poupadores um rendimento para evitar a corrosão do dinheiro pela alta diária dos preços na economia. Nos dias de hoje, com a estabilidade da moeda brasileira e a modernidade das aplicações no mercado financeiro, a lei ficou fora de contexto.
“É uma mudança inevitável. Não se pode mais adiar. As regras de hoje impedem que os juros caiam mais. Na época que foi criada, a garantia da remuneração era para evitar a perda no poder de compra. Hoje, ela impede crescimento do país”, alerta Miguel Ribeiro.
De todo o dinheiro que está aplicado no mercado financeiro brasileiro, quase R$ 2 trilhões estão em fundos de investimentos, sendo que a maior parte está em fundos de renda fixa. Na caderneta de poupança, segundo os números mais recentes divulgados pelo governo, estão depositados cerca de R$ 420 bilhões.
Os fundos de renda fixa e a caderneta de poupança são consideradas de baixo risco. A diferença está no potencial de ganhos e no custo da escolha.
Para a caderneta de poupança não existe cobrança de nenhum imposto nem taxa de administração dos bancos. Até porque, como a remuneração é assegurada pela lei há mais de 50 anos, os bancos não têm trabalho algum em manter o dinheiro em seus cofres virtuais.
Só para lembrar, a caderneta de poupança tem remuneração de 6% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), calculada por uma média ponderada das taxas negociadas no mercado de CDBs, títulos privados dos bancos. As aplicações em renda fixa ganham com base nos juros de mercado negociados com os títulos públicos. Se os juros básicos da economia sobem, o rendimento sobe. Se os juros caem, lá se vão os ganhos. Ganhando ou não, paga-se imposto de renda de acordo com o volume investido e taxa de administração dos bancos.
Para se ter uma idéia da diferença nos ganhos, o rendimento da poupança em 2011 foi de 7,5%. Os fundos de renda fixa renderam 12,40%!
Quando os juros ficam baixos demais, a tendência é que os investidores fujam para a poupança que, além de remuneração certa, não custa nada. Entretanto, a atratividade da poupança diminui muito se o governo mexer no ganho real do investimento, deixando de assegurar a remuneração.
“A poupança é o instrumento de financiamento para habitação. Quanto mais recursos ela tiver, mais tem para investir nos financiamentos de imóveis. Quando se tem um deslocamento, um dos lados sai prejudicado. Ou vai faltar recurso para habitação ou falta para financiar o governo. É preciso achar o ponto de equilíbrio”, pondera o vice-presidente da Anefac.
A forma mais fácil e rápida para resolver o quiprocó deverá ser a cobrança de imposto de renda para as aplicações mais altas da caderneta de poupança. O ideal seria mudar a lei, mas para isso seria preciso contar com um congresso nacional coeso e convicto da necessidade da mudança. Características raras e improváveis em um ano eleitoral como 2012.
“É mais difícil convencer os políticos a mexer no ganho real do que tributar a poupança. A presidente Dilma pode usar a popularidade que ela tem hoje para mexer nisso. Mas corre o risco de ficar marcada como a presidente que ’tungou’ a poupança.”, alerta Miguel Ribeiro.
http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2012/01/31/a-cadernta-de-poupanca-nao-gosta-de-juros-baixos/